Em encontro histórico na praça central de Santana do Livramento (RS), na divisa com o Uruguai, os ex-presidentes Lula (Brasil), Pepe Mujica (Uruguai), Rafael Corrêa (Equador) e Dilma Rousseff (Brasil) apontaram a interferência norte-americana em golpes na América Latina. Afirmaram que os EUA investem contra a união dos países sul-americanos e querem vê-los submissos aos seus interesses.
Segundo Lula, houve “dedo dos EUA” no golpe que derrubou a presidenta Dilma. Lula disse que o que incomoda os EUA é o fato de eles não estarem habituados com a autodeterminação dos povos, com os países tomarem decisões sem consultá-los. Assim foi, segundo ele, quando da criação da Unasul, do avanço do Mercosul e do repúdio à Alca.
Mujica pediu a união das esquerdas para enfrentar a nova situação no continente, onde houve avanço da direita e de posições fascistas.
O encontro ocorreu na tarde de segunda (19/3), no primeiro dia da caravana de Lula pelo Sul do país. Num coreto improvisado no meio da praça lotada, os ex-presidentes trocaram impressões sobre os novos rumos para as esquerdas no continente. Aos 72 anos, Lula se disse com um tesão de 20 para voltar à presidência e defendeu sua inocência.
Com filhos no colo, bandeiras vermelhas e chimarrão, a população se espremeu na praça, buscando ângulo para enxergar o presidente e, quem sabe, conseguir uma foto. Provocações antes da manifestação não prosperaram.
Logo no início do dia, tratores e caminhões passaram pela praça Silveira Martins, em Bagé, para protestar contra a presença de Lula na região. O objetivo dos ruralistas era impedir o evento na Unipampa (Universidade Federal do Pampa, criada pelos governo Lula). Lula chegou ao aeroporto de Bagé com Dilma e parlamentares do PT. No trajeto, militantes do MST acompanhavam a movimentação.
O protesto da direita usou um guindaste para expor uma bandeira do Rio Grande do Sul. Quando a caravana se aproximou da universidade, manifestantes anti-PT, alguns a cavalo, tentaram chegar perto dos ônibus. Pedras foram lançadas contra os ônibus; responsáveis pela ação foram detidos.
Um número bem maior de apoiadores aguardava Lula na Unipampa. Lula subiu no carro de som e classificou seus opositores como membros da “direita fascista”. Por que não protestaram quando da implantação da universidade, perguntou.
Contou que fez questão de iniciar a caravana pelo local onde criou a universidade pública –para dar chance aos mais pobres. A região de Bagé exibe histórica alta concentração fundiária. O Sul gaúcho, ao lado do Vale do Jequitinhonha, em Minas, e do Vale do Ribeira, em São Paulo, é uma das regiões mais pobres do país, com alta concentração de renda –situação que a universidade justamente tenta enfrentar.
Num recado aos manifestantes contrários, Dilma lembrou do financiamento a ruralistas durante o seu governo, citando também os investimentos na agricultura familiar.
De Bagé, a comitiva partiu para Santana do Livramento, onde ocorreu o encontro na praça com os ex-presidentes.
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