Eu chorei -e não foi pouco. Chorei ouvindo discurso, chorei fazendo falação, chorei no silencia e na canção.
Como eu, choraram outros, muito mais fortes e experientes. Mulheres e homens e filhos e filhas de mulheres e homens que não disseram palavra sob tortura ali se desmancharam em emoção.
Ali saudávamos a vida e a luta de um homem que encarna vidas e lutas de gerações de brasileiros, dos primeiros passos do movimento sindical moderno, nos tempos de Getúlio, à resistência democrática que procurou evitar a vitória de Bolsonaro nas eleições presidenciais de outubro último (acompanhe no vídeo um resumo do evento daquela manhã).
RAPHAEL MARTINELLI, o nome dele, festejado pela passagem de seus 94 anos –o dirigente sindical e combatente revolucionário nasceu em 16 de outubro de 1924 em uma pequena casa de madeira na Lapa, reduto operário na zona oeste de São Paulo.
Éramos ali um punhado de seus amigos e admiradores, uns trinta, talvez cinquenta. Havia dirigentes sindicais e ativistas políticos dos mais diversos tons de vermelho, uma demonstração da capacidade de diálogo de Martinelli, ex-dirigente comunista, um dos fundadores da ALN e sempre combatente pela democracia.
A homenagem foi organizada com carinho por Sebastião Neto, um dos guardiões da memória das lutas e dos lutadores dos movimentos populares no Brasil: é coordenador do IIEP Intercâmbio, Informações, Estudos e Pesquisas. Teve a colaboração do povo dos “Irredentos”, agremiação de ativistas históricos, e do Núcleo do 184, grupo de teatro em que milita a atriz, diretora e dramaturga Dulce Muniz.
Acolhidos em espaço do Sindicato dos Previdenciários, acompanhamos o desenrolar das homenagens, seguindo roteiro firmemente proclamado por Neto. Depois de jogral apresentando o homenageado e músicas como “Mamma”, em gravação de Pavarotti, foi a hora dos breves discursos, cada um mais emocionante que o outro.
Falaram José Luiz del Roio, também cofundador da ALN, e Geraldo Sardinha, do grupo dos Irredentos (isso é dizer pouco; Sardinha foi dirigente secundarista nas lutas do restaurante Calabouço, no Rio de Janeiro, em 1968, e protagonista nas mobilizações quando do assassinato do estudante Edson Luiz. É personagem no curta metragem “Calabouço – Um Tiro no Coração”, de Carlos Pronzato. Foi preso político no Uruguai durante três anos, como Tupamaro).
Filhos e filhas de ex-companheiros de luta, de greves e de prisão também deram seus depoimentos.
Nas falas, mais do que a homenagem ao passado, havia o chamado às lutas presentes: afinal, a cerimônia aconteceu uma semana antes do segundo turno da eleição presidencial. Todos ali faziam campanha pela candidatura Haddad, mas o noticiário já indicava que a vitória deveria ser do candidato que representa o atraso, o retrocesso civilizatório, o isolamento da Nação, as práticas fascistas.
Que viesse, disseram todos. Ali estava a voz da resistência.
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