“O Brasil sempre foi violento. Mas na hora em que há uma autorização implícita daquele que seria o mandatário da nação, a violência se espalha como uma epidemia. Esse rapaz que entra na festa de aniversário do petista gritando ‘Aqui é Bolsonaro!’ –e atira, ele está falando em nome do chefe dele, do ídolo dele, de quem lhe permite atirar”.

A análise é da psicanalista Maria Rita Kehl ao TUTAMÉIA. Jornalista, escritora, autora do premiado “O Tempo e o Cão” (Boitempo, 2009) e integrante da Comissão Nacional da Verdade, nesta entrevista ela trata das razões da escalada terrorista do bolsonarismo, do assassinato de Marcelo Arruda em Foz do Iguaçu e das mudanças esperadas com a possível vitória de Lula em outubro:

“Vai ser muito difícil, mas eu acho que é possível, quando Lula for presidente, conseguir pacificar de novo essa sociedade –que nunca foi muito pacífica, mas que agora saiu dos trilhos.  Esse assassinato desse rapaz no aniversário dele em nome de Bolsonaro. [O assassino] está tão confiante de que ele está protegido, que sendo bolsonarista ele pode, que ele faz isso” (acompanhe a integra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

PERVERSIDADE INCENTIVADA

Diz a psicanalista:

“O que acontece é que pessoas perversas –uma categoria da psicanálise—são pessoas que são capazes de ter prazer com a dor do outro. Por isso, eu posso chamar Bolsonaro também de perverso. Essas pessoas, que têm algum medo da lei, podem ser perversas com a esposa, o esposo, com filhos, mas não fazem maldades na rua, onde podem ser presas. Mas, agora, se sentem autorizadas, incentivadas. O assassino desse rapaz em nome de Bolsonaro está tão confiante de que ele está protegido, de que, sendo bolsonarista, ele pode, que ele faz isso”.

Maria Rita Kehl observa que, apesar de todos os incentivos de Bolsonaro à violência, é uma minoria que adere ao seu chamado.

“É uma minoria que faz um estrago enorme. Mas a população brasileira não entra, se horroriza, se solidariza. Meus respeito pelos milhões de pessoas que, apesar de todos os vícios escravagistas do Brasil, não estão a favor disso”.

Ela segue:

“Quando você torna obsoleto o tabu de que a vida humana é sagrada, a maldade se banaliza sozinha. Você posa com a arminha na mão, mostrando que esse é o seu projeto de governo, e sai todo mundo com a arminha na mão. Banalizaram a maldade. Vai ser um trabalhão desbanalizar”.

PACIFICAÇÃO IMEDIATA

Declarando estar otimista com a possibilidade de vitória de Lula, ela diz:

“Lula tem que fazer o que ele já fez, o que ele sabe fazer, que é tirar as pessoas da miséria. Se ele conseguir tirar o Brasil do mapa da fome de novo, já valeu”  .

Na sua visão, Lula vai agir na direção contrária de Bolsonaro, que é um cotidiano incentivador da violência.

“O discurso do Lula é pacificador. Ele vai ter um ministro de direitos humanos que seja de direitos humanos. Ele vai ter um ministério encarregado de cuidar da população. Haverá uma pacificação. Primeiro, haverá uma pacificação um pouco rápida pelo fato de o Bolsonaro sair do poder. Vai ter uma pacificação porque destituíram um incentivador da violência. Isso é muito importante. Como pode um presidente incentivar mortandade no país que ele governa? É cada vez mais inacreditável! A própria eleição do Lula vai causar uma certa pacificação”.