“O sentido da ditadura só leva ao desastre. Ditadura nunca mais. Temos que tentar debater, negociar, transformar a sociedade no rumo da justiça social sem recorrer a soluções de força que oprimam, censurem amordacem a imprensa, provoquem enriquecimento de alguns”. A avaliação é do sociólogo Marcelo Ridente em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima e inscreva-se no TUTAMÉIA TV).

Nesta conversa, ele trata dos caminhos de interpretação do golpe de 1964, das mentiras divulgadas ainda hoje sobre a ditadura, da corrupção no período, da censura _e de casos como o da epidemia de meningite, escondida pelos militares. Ligando a história aos dias da pandemia de hoje, fala das opções políticas de Bolsonaro e dos militares, da hipótese de renúncia e de golpe.

Professor de sociologia da Unicamp, e autor de “O Fantasma da Revolução Brasileira”, Ridente analisa: “O fantasma que assusta os setores conservadores da sociedade brasileira é o da convulsão social. Mais ainda se for uma convulsão social muito politizada, como tem acontecido no Chile, por exemplo. Nesse caso, há o risco de os militares intervirem de uma maneira menos velada e mais expressiva. Com uma diferença importante. Aquele regime de 64, para se legitimar, tinha um projeto econômico que gerou o milagre brasileiro. A legitimação do regime aconteceu em grande parte pelo crescimento econômico. Hoje, ninguém tem no bolso uma cartada para fazer um outro milagre brasileiro. Então fica difícil manter a estabilidade de um regime militar como os militares conseguiram relativamente, graças ao milagre brasileiro dos primeiros anos da ditadura”.

Ridenti fala também das consequências da crise do coronavírus no debate das ideias. Para ele, o momento aponta que “não dá para a ente viver numa sociedade precarizada, que faça a uberização das forças de trabalho, que retire direitos trabalhistas, que deixe as pessoas sem saúde pública. Esse evento mostra a importância do investimento público em saúde, ciência, tecnologia e na solidariedade entre as pessoas. O coronavírus pode dar para a humanidade uma percepção de que tem que acabar esse sistema maluco de valorização completa das mercadorias e de desvalorização das pessoas. O próprio capitalismo internacional se dá conta de que é preciso manter minimamente padrões de civilização e de vida decente para as pessoas. Ou vamos cair na barbárie total. A crise dá alguma esperança de uma percepção mais ampla da necessidade de defesa da vida. Nossas vidas valem mais do que o lucro deles”.