Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Meu brilhante amigo Paulinho, ao desejar que seus oitenta anos o encontrem com saúde, reafirmo: véio, você é indispensável pra todos nós e pra música brasileira! Aliás, hoje, ao escrever esta cartinha, lembrei-me do “Menopausa”, o time de futebol da rapaziada da música, lembra? Sempre aos domingos, no calor do meio-dia, nos reuníamos no Leblon e íamos jogar bola lá no Aniceto Moscoso, o estádio do Madureira, na Rua Conselheiro Galvão… Mas hoje quero lhe falar sobre Choro Negro – Cristovão Bastos e Mauro Senise tocam Paulinho da Viola (Biscoito Fino). Certamente você já ouviu o álbum feito em sua homenagem. Sendo assim, enquanto aproveito para comungar minha solidariedade ao tributo, verei algumas faixas.

“Um Choro Pro Waldir”, por exemplo, seu e do Cristovão Bastos: até que ele dedilhe o piano, tudo é silêncio. Então, vem a flauta de Mauro Senise e compartilha a delicadeza do arranjo do Cristovão. Sua melodia, Paulinho, desce pelo sopro de Mauro e ao se encontrar com a harmonia do piano de Cristovão parece lhe dizer: “Paulinho, querido amigo, esses somos nós. Esse é o nosso ofício e através dele desejamos que seu ‘oitentão’, comemorado neste novembro de 2022, venha com a suavidade das harmonias e melodias que o identificam como um dos maiores compositores do Brasil. Cada improviso, cada uníssono, cada levada, lhe trouxemos com um sorriso de alegria dedicado a você com todo o nosso cuidado”.

Em “Nada de Novo”, o sax alto e o piano reproduzem com precisão a sua letra. A cada acorde os versos vêm à cabeça do ouvinte. Mais uma vez o arranjo de Cristovão se curva ante a finura harmônica de sua composição, Da Viola. Tradutor de notas e letras em som, tudo nele é sabedoria sobre sabedoria: o sax de Senise chora, o piano de Bastos improvisa e as palavras vêm aos ouvidos. Já em “Coração Leviano”, o arranjo e o piano de Cristovão embalam o sax soprano de Mauro e também o contrabaixo de Jeff Lescowich e a percussão de Jurim Moreira. O suingue brando da percussão, engordado pelo baixo, traz à mente os seus versos. Piano e sax realizam a proeza de ressignificar instrumentalmente o seu samba que trazemos na memória.

E “Sarau Para Radamés”, seu tema instrumental gravado em 1978 que tinha Cristovão Bastos ao piano, se lembra? Ao recriar o arranjo, CB contou novamente com a flauta de Senise, o baixo (que improviso!) e a percussão. “Choro Negro”, seu e do Fernando Costa, é outro tema instrumental gravado por você no LP Nervos de Aço, em 1973, que também tinha… Cristovão ao piano – inesquecível! Contemplando o arranjo de Cristovão, cujo piano recria o tema com perfeição, o sax soprano de Senise ecoa.

Mas veja bem, Da Viola, é com “Outonal”, composição do Cristovão, que Mauro Senise e ele, a quem saúdo, fecham a tampa. A partir daí, acho que fica no ar apenas a sua súplica por uma “pausa de mil compassos”, pois certamente hoje você fará “ao seu jeito” um “samba sobre o infinito”. A você, Paulinho da Viola, o meu respeito.

Aquiles.