“Eu acredito que vai crescer um movimento no Brasil contra o Bolsonaro. “Não está descartada, de jeito nenhum, a possibilidade de impeachment. Até porque tem tempo para fazê-lo: vamos lembrar aqui que o impeachment do Collor demorou cinco meses. Então, vai crescendo esse descontentamento, não tem resposta ao povo, a base do Congresso, ela recebe os sinais da sociedade. Eu acho que nós caminhamos, sim, para uma possibilidade grande de impeachment de Bolsonaro.”
É a avaliação que faz a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT, em entrevista ao TUTAMÉIA nesta sexta-feira, 26.3, quando foi registrado novo recorde de mortes pela covid 19 em 24 horas: 3.650 óbitos, cinco vidas perdidas a cada dois minutos. Foi o final de uma semana marcada por grandes disputas políticas, começando pela divulgação de manifesto de banqueiros e economistas com críticas à condução do país durante a pandemia. Na terça, o Supremo decretou a suspeição do juiz Moro nos processos contra Lula e, na quinta o Congresso aprovou o orçamento do país.
Na entrevista –veja na íntegra no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV–, a líder petista analisa esses pontos e vislumbra o que chama de “descontentamento” na base bolsonarista. O que não impede derrotas para as forças progressistas, como a aprovação do Orçamento: “O Congresso Nacional aprovou o orçamento para 2021, atrasado, sem recompor os recursos para saúde. Cortou os recursos para o abono salarial, o seguro desemprego e a Previdência, e aumentou os recursos para emendas parlamentares e deu aumento para as Forças Armadas, congelando os salários de todos os demais funcionários. Isso é uma tragédia no meio dessa crise que nós vivemos. O Congresso, que estava tendo uma iniciativa melhor de enfrentamento à pandemia, com aprovação de projetos, volta a uma pauta de retrocessos, alinhada com os interesses do governo e com os interesses de deputados e senadores”.
As consequências são graves: “Apesar da luta e da resistência que fizemos lá, não conseguimos mudar isso. E, com isso, obviamente, vai faltar recursos para a gente fazer o enfrentamento que a gente precisa. Porque aí não vai ter recursos para abertura de mais leitos de SUS, não tem recursos para oxigênio, não tem recursos para insumos. Há um total desplanejamento por parte do governo, e nós estamos muita gente morrendo em porta de hospital, em macas, porque não consegue ter atendimento.”
O que leva a presidenta do PT a afirmar: “Embora o Congresso tenha aprovado esse orçamento bizarro, absurdo, o fato é que a base, o centrão do Bolsonaro, está vendo já as consequências políticas do desgoverno que ele tem. E isso impacta na base: os deputados têm de responder aos prefeitos que eles atendem, responder à base que vota neles, e está crescendo na sociedade uma contrariedade grande com Bolsonaro, as críticas de como eles está fazendo a gestão da pandemia”.
Ela prossegue: “Então começa a haver nessa base bolsonarista um descontentamento. Eu não diria que é algo que leve para a ruptura, que vão defender o impeachment, mas começa a haver. E é óbvio que, para chegar a um processo de impeachment ou de uma oposição mais sistemática, começa assim”.
UNIÃO NACIONAL
O manifesto assinado por dirigentes de bancos também joga água nesse moinho, no entender de Hoffmann: “Em relação à carta que saiu, da Faria Lima, do pessoal dos bancos, dos economistas, eu achei que foi muito importante porque é uma base que esteve ou está apoiando o governo até agora nas medidas econômicas e tem procurado defender. Também saiu com atraso, já deveriam ter se manifestado há muito tempo. Mas isso mostra já um grau de descolamento daqueles que ajudaram a eleger Bolsonaro. Mais do que uma base de apoio, é gente que articulou, apoiou, em estrutura, politicamente articulando com todos os setores, para que Bolsonaro se elegesse, apostando na agenda econômica liberal, que está levando o país a essa situação”.
A oposição, os democratas, os que defendem a vida precisam aproveitar esses movimentos todos, aponta ela: “A gente tem na sociedade um clima contrário ao governo pelas barbaridades que esse governo tem feito. Eu acho que é o momento, agora, para a gente tentar unir essas forças, que estão todas contra Bolsonaro, que estão todas contra a forma com que ele está fazendo a gestão da pandemia. Chamar a todos que lutam por vacina, que querem a renda emergencial mais alta, quem nem começou a ser paga, emprego, e enfrentar a forma como ele tem tratado a pandemia. Eu acho que são movimentos importantes, e que a gente tem de trabalhar para que eles cresçam, e para que a sociedade brasileira possa ter uma ação para tentar salvar o país dessa crise. Eu não acredito que o país vai se salvar com Bolsonaro”.
Segundo ela, o PT tem procurado realizar esse debate com diversos setores: “Nós temos feito todos esses esforços. O presidente Lula, em seu discurso no sindicato, fez uma chamada para uma unidade nacional das forças que querem proteger o povo, eu acho que esse é o caminho que a gente tem de seguir agora. Ver todo mundo que está com a mesma vontade, com a mesma linha, e acho que dá um apoio muito forte aos governadores e prefeitos, que são quem efetivamente estão tomando medidas para enfrentar a crise. Acho então que é hora de a gente unir esses setores para poder ter uma resposta a isso que está”.
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