“A Comuna de Paris quis fazer a revolução no plano da vida cotidiana, nas maneiras de viver. A Comuna é uma exemplaridade por sua universalidade, foi uma revolução da humanidade”. Quem dá a definição é o historiador Antonio Rago Filho, falando ao TUTAMÉIA.

Professor da PUC de São Paulo, ele expõe o contexto histórico da revolta, as contradições nas classes dominantes, as conquistas do movimento e as razões da derrota (acompanhe a íntegra no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV). A entrevista foi a primeira de uma série de conversas que TUTAMÉIA realiza na semana em que a rebelião completa 150 anos.

Em 18 de março de 1871, os trabalhadores parisienses de insurgiram com armas contra o governo francês que, aliado ao invasor prussiano, quis aniquilar a resistência na capital. Nos 72 dias da Comuna, os revoltosos definiram mudanças que ainda hoje ecoam. Alguns exemplos:

Estado e igreja foram separados e a igreja deixou de ser subvencionada pelo Estado. A educação passou a ser gratuita, secular e compulsória. Classes mistas foram implantadas. A igualdade entre os sexos foi implantada. A jornada de trabalho foi reduzida e descontos nos salários foram abolidos. Oficinas que estavam fechadas foram reabertas para que cooperativas fossem instaladas. Residências vazias foram desapropriadas e reocupadas. O exército permanente foi abolido. Cargos públicos passaram a ser objeto de eleição e podiam ser revogados por decisão coletiva. A pena de morte foi abolida.

A Comuna foi analisada em profundidade por Karl Marx (1818-1883) no livro “A Guerra Civil na França”, editado pela Boitempo em 2011. Rago faz a introdução ao volume e escreve:

“A Comuna de Paris foi a primeira experiência histórica de tomada de poder pela classe trabalhadora, cujo significado colocou-a como referencial para as lutas de emancipação social. A Comuna foi uma revolução contra o Estado”.

Ao TUTAMÉIA, o professor da PUC tratou do exame que Marx fez do movimento e comentou alguns dos motivos da derrota: o isolamento do movimento, a recusa em expropriar os recursos que estavam no Banco da França, a decisão de não atacar Versalhes, onde se concentrava o poder governamental.

Rago também destacou que o movimento foi resultado de um racha no interior das classes dominantes e, ao mesmo tempo, um agravamento nas condições de vida das classes subalternas. “As massas agem de modo independente; elas passam fome. São castigadas dia a dia, como hoje, quando a fome está parelha com a pandemia”.