“É uma situação dramática. Duzentos e oitenta e cinco mil, cento e trinta e seis mortos. Duas mil, setecentas e trinta e seis mortes nas últimas vinte e quatro horas. E o Brasil vivendo um estrangulamento do seu sistema de saúde. Nós chegamos a esse ponto porque temos um presidente da República delinquente. Um presidente da República a quem foi oferecido um lote de 70 milhões de vacinas, pela empresa Pfizer, e ele dispensou. Um presidente cujo ministro da Saúde recebeu e-mail pedindo que fosse mandado oxigênio para Manaus, e eles não tomaram conhecimento, não mandaram oxigênio para Manaus, onde as pessoas morreram sufocadas. Um presidente que solapou o distanciamento social: saía às ruas aos finais de semana, sem máscara e depois falou mal da máscara. Agora, quando o Brasil precisa de medidas mais fortes de distanciamento social, ele novamente ataca, diz que, se fizer lockdown, ele não se elege. Então qual é o foco? É a sua eleição ou a saúde e a vida? Ele é um genocida.”

Esse é o diagnóstico feito pelo deputado federal Paulo Teixeira, que falou ao TUTAMÉIA horas depois de ter sido verbalmente agredido e ameaçado por deputados bolsonaristas na reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Teixeira, do PT de São Paulo, atraiu a ira dos governistas por ter apresentado o quadro de desastre do país, a mortandade sem precedentes, e dito que Bolsonaro, responsável pela tragédia, é um genocida.

Na entrevista, realizada nesta quarta-feira, 17.03, quando pela primeira vez desde o início da pandemia a média móvel diária de mortes superou dois mil óbitos, Teixeira contou que os ataques prosseguiram ao longo do dia, atingindo pessoas de seu círculo: “Eles me agrediram, me atacaram, me ameaçaram de representar na Comissão de Ética, e minha assessora aqui do gabinete foi embora para casa em prantos porque recebeu dezenas de telefonemas de ameaças”. (Clique no vídeo no alto da página para ver a entrevista e se inscreva no TUTAMÉIA TV.)

São tentativas de esconder os fatos, afirma Teixeira, para quem o caminho para a salvação do país é a retirada de Bolsonaro: “Esse homem conduziu o país ao desastre. Os governadores fizeram contraponto a ele, os prefeitos fizeram contraponto a ele. O governador de São Paulo providenciou vacina. Agora, quando nos precisamos de medidas mais duras, necessárias para salvar vidas, ele fica atacando governadores e prefeitos. O que temos de discutir agora é como sair desse buraco. Uma das maneiras de sair desse buraco é ele ser afastado. Ele já está no quarto ministro da Saúde. Torço para que alguém responsável assuma aquele ministério e faça as medidas para a gente parar. Não entendo que tenha outra medida hoje diferente da que todos os cientistas indicam: tem de fazer um lockdown no Brasil hoje. E ele fica atacando governadores, estimulando pessoas a descumprirem. Temos de encorajar o país a exigir a substituição desse homem, porque senão serão quinhentos mil brasileiros a perderem suas vidas. Tem de dar um paradeiro a essa situação”.

A entrevista aconteceu horas depois de o Banco Central ter anunciado o aumento da taxa básica de juros –a primeira alta em quase seis anos. O que só evidencia ainda mais os laços do governo Bolsonaro com o mercado financeiro, na opinião de Teixeira:

“Esse governo é um governo comprometido com o mercado financeiro. É um governo que dá dinheiro para quem está no andar de cima. É um governo voltado para a especulação. O próprio ministro é um especulador. Se tem comida aumentando de preço, o que ele deveria ter feito é um estoque regulador, o que ele deveria ter feito é colocar dinheiro na agricultura familiar –tem um monte de agricultor familiar quebrando por falta de crédito. Isso que ele vai fazer é endividar mais o país, endividar mais as pessoas, e fazer a roda do sistema financeiro rodar. Nesta pandemia, aqui no Brasil, os bilionários ganharam muito dinheiro, e os mais pobres ficaram muito mais pobres”.

Conversamos também sobre o papel do ex-presidente Lula neste cenário: “O presidente Lula quer ajudar o Brasil a ultrapassar este momento que o Brasil está vivendo. No discurse dele, ele falou: montem um comitê científico nacional. Falou que precisa dar um auxílio emergencial adequado para a sobrevivência das pessoas. Falou que tem de ter recursos para os pequenos empresários, tem de ter recursos para as empresas, para que mantenham os vínculos de trabalho. Está tentando ajudar agora. Esse surgimento dele é um surgimento que polariza, que aglutina, que atrai. Ele também ajudará muito o Brasil a encontrar um caminho para a superação desse desastre que nós estamos metidos, que é esse presidente da República”.

E falamos com Paulo Teixeira sobre a propostas da oposição para superar este momento: “Temos de apoiar medidas mais duras de isolamento social. Só elas vão diminuir o nível de espraiamento desse vírus. Araraquara fez dez dias de lockdown; dez dias depois, a pandemia baixou cinquenta por cento. Então a primeira medida: tem de ter mais restrição para cortar o espalhamento desse vírus. E o governo federal tem de oferecer e garantir leitos de UTI. Tem muita gente morrendo dentro de casa, sufocada, por falta de leito de UTI. Ele tem de ampliar a oferta de leitos de UTI, rapidamente, no curtíssimo prazo, para salvar vidas”.

Mais: “É preciso ampliar a produção de vacinas no Brasil. Precisamos encurtar o calendário de vacinação. Tem de botar dinheiro na mão do povo. Tem de botar dinheiro para não quebra empresas. Tem de emitir dinheiro. Os Estados fizeram isso, acabam de soltar pacote de auxílio elevadíssimo fazer frente à pandemia”.

O problema todo, resume o parlamentar, é a condução do processo pelo governo federal: “Essa pandemia tem caráter político. Entrou o novo presidente dos Estados Unidos, o Biden, despencou o número de mortes por dia. Tem um caráter político. Aqui no Brasil, ela cresce por conta do presidente da República”.