“Estão usando uma retórica de medo. Os bolsonaristas e o próprio capetão insano têm usado um discurso de violência, de ódio, de ameaças, justamente para ver se nós saímos das ruas, porque, na prática, desde aquela grande mobilização que nós fizemos no dia 7 de abril e depois todo mês fomos repetindo, o Bolsonaro já perdeu as ruas. E, sobretudo, perdeu a hegemonia de suas ideias na sociedade.”

Essa é a avaliação do economista João Pedro Stedile, dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, falando ao TUTAMÉIA às vésperas da celebração do Sete de Setembro, para quando estão marcadas manifestações FORA BOLSONARO! em todo o país, assim como atividades instigando ao golpe contra a democracia.

Para embasar sua afirmação, Stedile diz: “A ampla maioria da sociedade, que aparece nas pesquisas eleitorais, que aparece nas pesquisas de opinião, não apoia, rejeita esse discurso do Bolsonaro. É por isso que ele vai reduzindo cada vez mais a sua base social aos fanáticos” (clique no vídeo para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Para engrossar os encontros fascistas, “evidentemente que ele está apelando para que os fanáticos da PM se somem”, diz o dirigente do MST.

Mesmos esses, porém, representam parcela minoritária em seu grupo profissional, segundo diz o dirigente do MST: “Pesquisas que nós temos, dos institutos de segurança, na corporação da Polícia Militar e das outras polícias, [dizem que] nós temos em torno de setenta por cento que rejeita esse tipo de discurso. Depois temos uns vinte por cento que até apoiam, mas não de forma militante, ao Bolsonaro, mas se identificam com ele, até pelas promessas de aumento salarial, e apenas oito a dez por cento das corporações militares se consideram militantes bolsonaristas. O que é muito pouco, reflete um padrão que tem na sociedade”.

Aliás, os grandes grupos que propiciaram a vitória de Bolsonaro em 2018 hoje estão divididos, segundo a avaliação de João Pedro Stedile. Ele comenta, por exemplo, as divergências existentes entre a burguesia, mesmo no agronegócio, onde há grupos que procuram saídas para desembarcar desse apoio ou mesmo já desembarcaram neles.

As Forças Armadas, apesar de a cúpula estar envolvida com Bolsonaro e apesar dos milhares de militares que arrumaram “uma boquinha” no serviço público, também refletem esse debate:

“Os membros das forças armadas de qualquer país da América Latina, por sua inserção na sociedade, por sua renda, eles se comportam com a classe média, como a pequena burguesia. Os filhos deles sofrem influência da pequena burguesia. As Forças Armadas não são só formadas nos quarteis, os militares andam nos supermercados, assistem televisão, também sofrem influência ideológicas diversas. E assumem, no geral, posições que a pequena burguesia –a classe média – assume. E note: hoje a classe média brasileira está crítica ao Bolsonaro, e é formadora de opinião. E isso é um componente importante.”

O que o leva a dizer: “Acho que, pela natureza do Bolsonaro, pela forma de ele se comportar, estão se criando cada vez mais contradições entre o governo Bolsonaro, aqueles milicos que estão em Brasília, com quem está nos quartéis, seguindo a sua profissão, querendo resguardar as instituições, a Constituição”.

Stedile também comentou as ingerências dos Estados Unidos no Brasil, os desafios dos progressistas para chegar a uma vitória nas eleições presidenciais no ano que vem, os ataques sofridos pelo MST ao longo do governo Bolsonaro –e as vitórias que o movimento obteve em cada uma dessas investidas—, as atividades dos Sem Terra para reduzir o sofrimento do povo na pandemia e a luta dos trabalhadores rurais por uma produção agrícola saudável, sem veneno.

E ressaltou a força que vem sendo construída pela campanha FORA BOLSONARO rumo às manifestações neste Sete de Setembro, apesar das provocações feitas por grupos fanáticos bolsonaristas:

“Nós, que estamos na campanha nacional FORA BOLSONARO, que aglutina quatrocentas organizações nacionais, populares, sindicais, partidos, igrejas, frentes da saúde pela vida, nós felizmente não estamos imbuídos desse clima de violência, de tensionamento. Por isso, nas últimas semanas mantivemos com naturalidade toda a programação que havia sido estabelecida para o 7 de Setembro. Já temos a confirmação de mais de duzentas cidades em todo o Brasil, e espero que nós tenhamos uma presença de militância maior do que na última jornada nacional. Até porque, neste Sete de Setembro, se somarão à campanha nacional FORA BOLSONARO setores das igrejas cristãs, que têm a tradição, já há 27 anos, de em todo o 7 de Setembro fazer jornadas de conscientização de nosso povo.”

Ele segue: “Eu acredito que os atos de 7 de Setembro, de nossa parte, terão amplitude social maior, haverá outras forças sociais que se somarão, e também terão uma mística maior por serem realizados na Semana da Pátria –um momento de pensarmos o Brasil, pensarmos criticamente”.

O que não significa desprezar os símbolos nacionais: “A bandeira do Brasil é do povo brasileiro, é o símbolo de nossa nacionalidade. Não devemos nos envergonhar de levá-la, devemos ampliar a sua utilização, sem deixar de lado as bandeiras dos nossos partidos, dos nossos movimentos, as nossas faixas”.