“Na gestão Castello Branco, indicado por Bolsonaro, venderam TUDO o que a Petrobras desenvolveu de energias renováveis! Estão à venda a Petrobras Biocombustíveis, venderam agora um parque energia eólica lá no Nordeste, um parque de energia solar, ou seja, tudo o que fazia com que a Petrobras fosse essa empresa integrada de energia –que se tornou, em 2009 e 2010, a quarta maior empresa de energia do mundo–, eles estão vendendo, destruindo. Isso é ir na contramão do que as grandes empresas do setor estão fazendo hoje no mundo –elas adquirindo ativos, se integrando ainda mais, investindo na transição energética, observando o futuro. Castello Branco e Bolsonaro, não. Eles estão apequenando a Petrobras, fazendo dela apenas uma empresa exportadora de petróleo cru, para o Brasil ser mais uma vez colônia, importando derivados de petróleo, e tornando a Petrobras, além de pequena, uma empresa suja, porque sai da área de energias renováveis. É um crime o que estão fazendo com a Petrobras e, por tabela, com o Brasil, com o povo brasileiro, com a nossa soberania energética e com a soberania nacional como um todo.”
A avaliação é de Deyvid Bacelar, coordenador geral da FUP (Federação Única dos Petroleiros, entidade que reúne sindicatos da categoria em todo o país), em entrevista ao TUTAMÉIA nesta terça-feira, 23.3, quando os trabalhadores da Petrobras chegam ao seu décimo nono dia de greve. Ele falou sobre o desenrolar do movimento, a Greve pela Vida, que também denuncia a política de preços e a processo de privatização das empresas estatais no governo Bolsonaro.
“É assustador o que está acontecendo. Talvez esse governo não queira dar a vacina, como outros países estão fazendo, vacinando em massa a população, porque quer manter sob controle essa população indignada, revoltada”, diz Bacelar (clique no vídeo para ver entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Ao mesmo tempo em que ataca a saúde da população, o governo federal realiza um desmonte na economia nacional. O processo ocorrido na Petrobrás é exemplo disso, conforme conta o líder dos petroleiros: “Desde o início do governo Bolsonaro, nós já tivemos mais de trinta ativos do sistema Petrobras vendidos. Estamos falando de quase vinte bilhões de dólares que foram entregues a empresas estrangeiras, ativos nossos, construídos com recursos da Petrobras e, por tabela, com recursos do povo”.
Ele aponta cada perda: “A BR Distribuidora foi dissolvida na Bolsa de Valores. A Petrobras detém ainda 35% das ações da Petrobras Distribuidora, e quem é de fato o dono? Ninguém sabe. São investidores de outros países, fundos de investimento, grandes bancos. A BR Distribuidora ajudava a Petrobras a ter um maior grau de participação no mercado interno. E não é qualquer mercado: o Brasil é o sétimo maior mercado consumidor de derivados de petróleo do mundo. Por isso há o interesse de outros países, de empresas de outros países nesse mercado. Então venderam a BR Distribuidora, que era o elo de ligação da Petrobras e nosso com a população. A população não vê a plataforma, não vê a refinaria, não vê o terminal, não vê os dutos. A população vê o posto, com o símbolo da Petrobras. Isso foi vendido! Só 35% está na nossa mão”.
Outra entrega: “Venderam a Liquigás. A Liquigás foi um instrumento poderosíssimo que o governo federal teve para manter por dez anos, de 2003 a 2013, o preço do GLP praticamente congelado no Brasil. Nesse período, o preço varia de 30 reais a 37 reais o botijão! É isso mesmo! Tá quanto hoje? Cem reais! Fizemos isso durante dez anos! E agora venderam a Liquigás!”
Mais uma: “Venderam uma gigantesca malha de gasodutos, que foi construída pela Petrobras, que liga todo o país. E agora a Petrobras aluga a malha que foi vendida para poder fazer com que o gás que ela produz chegue a todo o país, seja comercializado”.
Ele explica que “quem é o maior prejudicado com as privatizações é o cidadão, a cidadã. O objetivo é minimizar custos em cima das trabalhadoras e dos trabalhadores, e maximizar lucros em cima do cidadão, da cidadã”. Por isso, conclama: “Cabe então uma reação nossa, não somente da categoria petroleira, que está em greve há dezenove dias, mas também das categorias que sofrem os mesmos males, e, principalmente, da sociedade brasileira, que ajudou a criar a Petrobras, na década de 1950, e agora precisa se rebelar contra tudo isso”.
Um dos movimentos é a greve da categoria. Bacelar também fala sobre a mobilização nacional que está sendo convocada pelas centrais sindicais, pelas frentes que reúnem movimentos populares e por partidos democratas:
“É preciso pressionar o governo. Por isso neste dia 24 de março temos o lock down da classe trabalhadora. Trabalhadores e trabalhadoras estão sendo orientados e orientadas a ficarem em casa para proteger as suas próprias vidas e ajudar os prefeitos e governadores a fazer aquilo que o governo federal não quer fazer –por sinal, Bolsonaro entrou com ação contra as medidas restritivas de alguns governos estaduais e municipais. É um genocida de fato, como disse Felipe Neto. É um genocida. Além de não fornecer a vacina, quer dizimar a população. Quem é que está morrendo? Quem está morrendo é o preto, pobre, da periferia, que não tem acesso à saúde da forma que poderia ter, que não tem renda para comer e então tem de se expor, e o maldito vírus vai matar quem mais se expõe”.
A mobilização unitária tem quatro pilares: vacina já para todos, através do SUS; auxílio emergencial –a renda mínima universal–; geração de emprego e renda e luta contra as privatizações. E Bacelar conclui: “Nós já temos unidade. Precisamos transformar isso num programa e numa luta nacional que faça frente e resista às ações do governo federal”.
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