“A Lava Jato derrubou Dilma e enfiou Bolsonaro pela goela do Brasil. Com seu caráter facinoroso, ele tratou de operar a destruição do sistema de controles da roubalheira. Não sabe nem articular uma frase, mas é um craque em articular caminhos para promover o enriquecimento, que não é o do país, muito menos o do povo.”
Palavras da jornalista Hildegard Angel na edição desta quinta-feira, 7 de abril, do programa Redemoinho. A seguir, acompanhe o texto da videocoluna transmitida por TUTAMÉIA.
TEMOS DE LUTAR PARA RESGATAR O BRASIL
Texto de HILDEGARD ANGEL
Suspiramos aliviados quando vimos o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, enfim, ter a punição que merecia. Julgado e preso. Mas erva daninha na política se espalha e multiplica com a mesma velocidade com que os milicianos pipocam na vida brasileira.
Cunha deu filhote na Presidência da Câmara, e ele se chama Arthur Lira, ainda mais brilhante, voraz e impiedoso do que seu inspirador. Lira é genial. Um segundo gênio do mal, e que merece o primeiro prêmio.
O Orçamento Secreto concebido por ele é o Esquema Eduardo Cunha legalizado, como postei ontem nas redes sociais. O que era antes um repasse ilegal de verbas agora é legal. Mas continua debaixo dos panos. O que terá com toda a certeza um peso enorme na campanha dos bolsonaristas. São 16 bilhões e 500 milhões, de que só os partidos de Bolsonaro verão a cor. É muito dinheiro, e é difícil de fiscalizar.
Agora sabemos que uma parte dessa fortuna secreta foi destinada à empresa do pai de um aliado de Cunha, que, insaciável, quer mais. Quer a Petrobras e, na esteira do processo, a Eletrobras.
A jornalista Maria Cristina Fernandes decifra essa malandragem em seu artigo de hoje “Memórias do Cárcere”, no Valor.
Ela explica: “A inédita desistência dos indicados para a presidência da Petrobras e do conselho de administração é decorrência do último bastião dos costumes reformados a partir do mensalão até a Lava Jato. Alguns caíram por exagerados, como a condução coercitiva, outros por desmoralizados, como o instituto da delação. Há ainda aqueles, como o foro privilegiado, que seguem convenientemente congelados.”
Maria Cristina diz que a reversão das mudanças na jurisprudência e nos costumes da política foi suscitada pelo que chama de “escandalogia”, uma grande facilitadora dessa política nos últimos seis anos.
Porém havia uma pedra nesse caminho já azeitado pela escandalogia: O muro da governança da Petrobras e da Lei das Estatais.
Diz Maria Cristina: “Quando a onda foi impedida de avançar para devolver à política o controle da maior empresa brasileira, o sistema travou.”
E foi contra essa trava, esse obstáculo não previsto, que o presidente da Câmara, Arthur Lira, chiou e se indignou. Porque, nesse festival de raspa do tacho em que se transformaram esses meses finais de governo, Lira quer levar tudo de roldão, como fizeram as enxurradas na Petrópolis devastada.
Lira é a personificação da calamidade ambiental na ganância política. Mais um trecho do artigo de Maria Cristina: “Se ele quer vender a Petrobras é para fazer o bis da Eletrobras, cujo modelo de privatização resultou num retalhamento de interesses com prejuízo público e benefício privado.”
Acontece que, ela explica, “Na tramitação da medida provisória da Eletrobras, que transcorreu na Câmara sob o comando de Lira, há benesses que dependem da Petrobras para serem abrigadas.”
Santa Petrobras! Grande Petrobras, motivo da gula desvairada do neoliberalismo, do Império e dos papa-tudo por dinheiro.
“Nesses seis anos, os partidos atingidos pela Lava Jato operaram uma retomada das posições que detinham. Em vez de mesadas promíscuas, partiram para relações formalmente reconhecidas. Primeiro veio a impositividade crescente das emendas parlamentares e depois o aumento paulatino dos fundos eleitoral e partidário”, escreve ela.
Nada como uma boa reflexão para decifrar os labirintos que as ratazanas percorrem para abocanhar o grande queijo, que agora esses partidos partem para retomar: a Petrobras.
Contrariamente ao que dizem Bonner, Leitão e Sardenberg, foram o PL e o PP os partidos que lideraram o mensalão e a Lava-Jato, e não foi o PT, usado pela mídia hegemônica como bucha de canhão a ser destruída.
Desta vez, o PP e o PL operaram, ainda com maior competência, seu casamento com o Executivo, “de papel passado e com comunhão de bens”, conforme o texto no Valor.
Vejam que ardilosos: eles hoje detêm a primeira bancada da Câmara, com 75 deputados, e a segunda, com 59.
A fúria cega de Joaquim Barbosa, o ex-ministro do STF, que preferiu satanizar nomes históricos das esquerdas do que ir à raiz da verdade no Mensalão, transformado em Mentirão, pode ser chamada de responsável pela atual entronização de Valdemar Costa Neto, agora desfiliado do PSB.
Joaquim Barbosa chora o leite derramado no ombro da jornalista do Valor: “Sim, Valdemar venceu. Ele e todos os políticos que têm por objetivo se apossar do Estado venceram e levaram a uma hipertrofia do Legislativo que agora querem consolidar com o nome de semipresidencialismo, com o agravante de que agora o sistema de freios e contrapesos já não funciona mais”.
A isso levaram juízes preocupados mais em fazer política do que em fazer Justiça.
Em fazer espetáculo do que fazer seu trabalho.
As perversões do Legislativo de hoje são o suco advindo da condução nociva desses juízes no Mensalão e na Lava Jato.
Maria Cristina relata:
“A espantosa recuperação política de Valdemar Costa Neto deu-se às custas do Estado, graças ao comando de uma máquina partidária com franco e crescente acesso a recursos públicos. Há apenas seis anos foi beneficiado por indulto à sua pena de sete anos e 10 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Vinte dias antes da extinção de sua pena, a signatária do indulto, a ex-presidente Dilma Rousseff, teve aberto contra si o processo de impeachment que resultaria na sua cassação.”
Como vemos, a Lava Jato derrubou Dilma e enfiou Bolsonaro pela goela do Brasil. Com seu caráter facinoroso, ele tratou de operar a destruição do sistema de controles da roubalheira.
Não sabe nem articular uma frase, mas é um craque em articular caminhos para promover o enriquecimento, que não é o do país, muito menos o do povo.
Em quatro anos, a devastação nas agências reguladoras e nos avanços institucionais dos mecanismos de controle do Estado alcançados em 23 anos pelos governos do PSDB (agências reguladoras), PT (autonomia do MPF e da PF) e MDB (governança da Petrobras) só será comparável às queimadas na Amazônia e no Pantanal.
Bolsonaro é o grileiro do Brasil, de nossos sonhos e esperanças.
As transferências da janela partidária possibilitaram que a gula presidencial abocanhe o que restou da terceira via e parta para cima de Lula.
E Lula tem demonstrado perigosa ausência de medo do perigo ao abordar, de modo correto, oportuno e desabrido, temas perigosamente delicados, como o aborto e a demissão de 8 mil militares em cargos do governo.
Lula está tendo a ousadia de ser legítimo, com o destemor de um jovem idealista que encara um tanque de guerra, na Avenida da Paz Celestial em Pequim, ou o de um jovem brasileiro, na Passeata dos 100 mil, se defendendo dos cascos dos cavalos da polícia montada da Ditadura com pedrinhas do calçamento.
Lula mexe em casa de marimbondos sem contar, para chamar de seu, com um exército virtual para disseminar notícias, como têm o ardiloso Bolsonaro e seus filhos, que mamaram no leite das iniquidades desde o berço.
Lula conta apenas com a racionalidade dos justos para defendê-lo, e não com os batalhões de obscurantistas das igrejas evangélicas.
Lula também açulou a ira do empresariado selvagem (já meio convencido do tiro que deu no pé com Paulo Guedes), quando aconselhou sindicalistas a protestarem contra a precarização dos direitos trabalhistas na frente das residências dos deputados. O que levou o empresário Abílio Diniz a dizer em São Paulo que o governo está indo muito bem, está “andando”, está “muito bem”. Andando com as reservas deixadas pelos governos do PT.
“Sem munição para as milícias digitais bolsonaristas, isso é o que de pior Lula pode tirar de suas memórias do cárcere.” Assim Maria Cristina Fernandes conclui seu texto, mais que oportuno, referindo-se ao tempo em que, preso, Lula ficou alheio a esse processo avassalador de manipulação através das redes sociais.
Vamos viver nesses próximos meses, e literalmente, uma batalha bíblica do bem contra o mal. Diz Eduardo Galeano, e esperamos que ele esteja errado, que “o mal sempre vence” quando há esse tipo de confronto.
Mas nós temos por tudo isso que lutar, e evitar conflitos das esquerdas e conflitos internos do próprio PT. Temos que nos unir e lutar, como se nós nos preparássemos para uma olimpíada. A olimpíada do nosso resgate. Temos que nos arregimentar para essa vitória, arregimentar junto aos próximos, àqueles que encontramos, com quem falamos e para quem escrevemos, formar um exército de patriotas, de brasileiros importantes, magoados, sofridos, dispostos a lutar para resgatar o Brasil.
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