A financeirização diluiu o conceito de interesse nacional. E os executivos e empresários estão focados apenas na rentabilidade, no curto prazo, nos próximos negócios. Mas há risco nesse comportamento apequenado e, muitas vezes, subalterno a interesses antinacionais.
É o que afirma Luis Nassif ao TUTAMÉIA. O jornalista fala da burguesia brasileira atual ao compará-la a dos tempos desenvolvimentistas de meados do século passado. Aqueles tempos são o pano de fundo de seu novo livro “Walther Moreira Salles, o Banqueiro-embaixador e a Construção do Brasil”(Companhia Editora Nacional). Na biografia, o autor mergulha na trajetória do empresário que serviu aos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart.
“O sonho de Walther era ser um grande empresário de um grande país. Ele sabia ganhar dinheiro. E tinha visão de estado, de fortalecimento do país”, diz Nassif. No livro, ele trata da convivência do empresário com os grandes bilionários de então. “Ele não queria ser cidadão de segunda classe em país de primeira classe. Ele queria ser cidadão de primeira classe e transformar o país em primeira classe”.
O jornalista lembra da importância do capital financeiro naquele tempo no sentido de acelerar os movimentos de transformação da economia nacional. Hoje, acentua, o panorama é bem diverso. Os empresários, diz, “estão olhando o que pode abrir de negócios na privatização, nas reformas. Estão todos preparados em ativos, esperando a avalanche o investimento externo para vender os ativos valorizados. É uma falta de responsabilidade institucional em relação ao país que me surpreende muito”.


Nassif lembra de que é corriqueira a avaliação de que a política acabou porque não há mais estadistas. “Mas, quando se olha o setor privado, cadê os estadistas? Não existem mais aqueles [empresários] que tinham noção dos interesses do seu setor, mas do setor acoplado ao país. A financeirização diluiu conceitos de interesse nacional porque o capital gira para todo lado. Enxergam tudo como uma grande mesa de operações. É uma insensibilidade muito grande”.
Na entrevista ao TUTAMÉIA (clique no vídeo do alto da página para ver a íntegra), Nassif trata de mídia, das instituições, da conjuntura política –“a Lava Jato está virando fumaça”. E da economia: “O mal-estar vai continuar. Essa desestruturação total que está acontecendo na parte social e em tudo não traz base de crescimento sustentado. Há falta de estadistas. As empresas querem tirar custo trabalhista, acham que desregulação melhora. São incapazes de ver o todo –que vai afetar a sua parte mais adiante”.