“Eu era estagiário na Petrobras em Carmópolis, em Sergipe, em fevereiro de 1964. Ali, pela primeira vez, eu senti o entusiasmo dos empregados da Petrobras. Éramos todos brasileiros. O petróleo vinha na tubulação. Era uma sensação absolutamente extraordinária. Aquele líquido preto meio viscoso no tanque fazendo barulho. Ali eu comecei a sentir, como brasileiro, a importância de uma empresa de petróleo brasileira. Não era uma simples empresa. O Brasil estava sendo discutido. A dependência de petróleo, a importância da companhia, o sonho da autossuficiência estava ali naquele dia a dia, no café da manhã, no almoço e no jantar”.
Palavras do geólogo Guilherme Estrella, 82, ao TUTAMÉIA. Pai do pré-sal, nesta entrevista ele fala de sua trajetória, dos enormes avanços conquistados pela Petrobrás e do desmonte feito na companhia, que afeta a soberania do país. Para ele, há urgência na mudança de curso.
“O governo tem que reassumir a gestão da Petrobrás. O mundo está dando saltos gigantescos e estamos ficando para trás. O Brasil é a base do rearranjo do capitalismo financeiro explorador para sustentar esse polo que até hoje foi hegemônico no mundo. Somos os maiores exportadores de alimentos, de minérios de ferro, de energia. E o nosso povo, como ficamos? Nossos engenheiros estão se formando para quê? Temos centenas de milhares de engenheiros desempregados. Isso é insustentável. Isso não vai ser resolvido com boas maneiras. Temos que ter contundência. Somos um país riquíssimo e estamos sendo saqueados”.
A entrevista de Estrella, gravada em primeiro de março de 2024, integra o conjunto de depoimentos que TUTAMÉIA apresenta sobre os 60 anos do golpe militar de 1964. Na época, o geólogo estava no último ano da faculdade. Sua turma não teve solenidade de formatura. Decidiu homenagear um deputado cassado pela ditadura e teve a festa cancelada pela diretoria da escola.
Na conversa, ele adverte:
“A Petrobras precisa se transformar novamente numa empresa estatal. Quando estava no lado deles, os caras tratoraram. Quando estava do lado deles, os caras fraudaram as eleições, prenderam o Lula, terminaram com o monopólio estatal do petróleo, terminaram com o marco regulatório do pré-sal. Eles não têm limites”.
“Esse aspecto da negociação é muito importante, mas o governo é o governo. Nós ganhamos as eleições, temos que representar a vontade popular, façamos plebiscitos, consultas à sociedade. Tem que partir para uma pressão forte, clara, comunicação com a sociedade e com resultados a curto prazo”.
Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Sérgio Ferro e Rose Nogueira.
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