Depois de quinze anos de germinação, nasce agora o primeiro projeto solo de Aquiles Reis, que há mais de cinco décadas divide os palcos, as conversas, as composições e a música com os parceiros do MPB4 –grupo vocal que tem seu nome ligado à resistência democrática e o sonho de construção de um país justo, igualitário, livre e soberano. Foram esses temas –a nova produção solo e a luta pela democracia no Brasil—que pontuaram a entrevista concedida por Aquiles ao TUTAMÉIA.

Pai de uma garota de 16 anos, Aquiles começou falando de sua preocupação ao ver governadores e prefeitos falando em volta às aulas, num momento em que nada está garantido em relação ao controle da pandemia no país e em São Paulo. Ao contrário, as ações do governo tendem a prejudicar: “O que se viu, até agora, é um presidente omisso, com decisões que beiram o crime. As pessoas não têm valor para o governo Bolsonaro. Ele é um genocida, um fascista genocida. O governo não assume o papel que deveria ter assumido, de esclarecer o povo sobre a maldade que é esse vírus. O presidente da República só fez piorar isso, desde o início, com opiniões ridículas, com uma ação nefasta”.

O que obriga cada um a se cuidar da melhor maneira possível, mantendo isolamento social, como tem feito o cantor: “Só não estou angustiado porque tenho conseguido produzir coisas, mesmo que só, aqui, individualmente. Desde os meus 17 anos sempre trabalhei em grupo, são 55 anos com o MPB4, estou me acostumando a fazer coisas, a escrever, ouvir músicas, criar ideias e batalhar para realizá-las. Essa minha atividade é que me faz ir em frente”.

Mesmo isolados, cada um em sua casa, os quatro integrantes do MPB4 realizaram várias produções. Não só lançaram músicas gravadas no “estilo pandemia”, como também conseguiram arregimentar outros artistas para projetos comuns –o “Somos Muitos” é um exemplo disso–, além de construírem shows completos nessa nova forma de apresentação que a pandemia exige.

Mas o que está tomando as atenções de Aquiles é colocar no ar seu projeto solo “Toda canção é de ninar”, uma operação dois em um, como ele chama, porque combina música e texto, contos e canções.

“É como se fosse tirar de dentro de mim uma ideia que já teve muito para quase na beira para realizar”, conta Aquiles (clique no vídeo acima para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV). “Agora, na pandemia, comecei a pensar um projeto que, na verdade eu já tinha na minha cabeça há uns quinze anos. Primeiro pensei em fazer só um disco com as músicas de Toda a canção é de ninar. Cheguei a gravar em estúdio essas músicas…”

As gravações estão sendo aproveitadas agora, somadas aos contos em que o personagem central é um menino de oito anos, o José Júnior, que dorme ao som de canções cantadas pelo pai.

“Serão nove capítulos, porque tenho nove músicas gravadas em estúdio e são nove contos do menino José Júnior. O menino, no seu dia a dia, comenta o que o pai fala para ele, o tipo de música que o pai canta para ele. Por exemplo, o pai canta para ele uma música do Nélson Cavaquinho, que ele acha linda, e ele fala no colégio sobre a música, e ninguém conhece o Nélson Cavaquinho, e o pai se orgulha de o filho ter bom gosto. As duas coisas se entrelaçam e criam um clima…”, diz o vocalista do MPB4.

Clima que Aquiles viveu com seus filhos e que recomenda a todos nós: “Toda canção é de ninar, ou seja, não precisa se forçar a cantar uma música que não conhece ou que não gosta. Cantem a música que vocês sabem cantar. Eu fiz isso com meus filhos, e tinha uma satisfação enorme em fazer. Bota a melodia no osso, canta com a intenção de fazer uma criança dormir: lento, quase sussurrando, até que a criança durma”.

E conclui: “Mesmo nesta época, em que está cada um aprisionado em casa, as ideias têm de sair, as ideias têm de brotar e têm de ser postas em prática. Esse projeto, apesar de eu ter tentado fazer, ao longo desse tempo todo, nunca foi prá frente. Agora, eu fui à frente. Espero que esse meu trabalho sirva para alguma coisa, que consiga fazer a cabeça das pessoas de alguma forma. Agradeço a quem assistir com paciência e coração aberto às coisas que pensei e venho pensando e finalmente coloco em prática”.

Você encontra “Toda canção é de ninar” nas redes sociais do MPB4.