Essa foi a frase de despedida de um grupo de sargentos que buscaram orientação do então capitão dos Dragões da Independência Ivan Cavalcanti Proença, ainda na madrugada do dia primeiro de abril de 1964.
Os militares hviam recém-chegado ao Rio de Janeiro na tropa liderada pelo general Olímpio Mourão Filho e estavam acampados na região do Maracanã.
“Nem todos estavam apoiando o golpe. Eles não sabiam o que fazer”, conta Proença ao TUTAMÉIA, acrescentando que os que foram falar com ele eram sargentos, mas havia oficiais no grupo. Para ele, são indicações de que a derrubada de João Goulart não era favas contadas.
“Poderíamos, sim, ter evitado o golpe”, afirma, citando lideranças militares da Aeronáutica que estavam dispostas a pegar em armas para defender a legalidade.
Não foi o que aconteceu. Quando Proença recebeu os militares, o presidente da República já não estava mais no Palácio das Laranjeiras –tinha viajado a Brasília, de onde seguiria mais tarde para o Rio Grande do Sul e, dias depois, para o exílio.
Aliás, a primeira ordem que Proença, integrante da guarda presidencial, recebeu naquela manhã, depois da conversa na madrugada, foi ir a Laranjeiras confirmar se Jango efetivamente não estava mais no Rio.
A partir daquele momento, os acontecimentos ganharam velocidade, e Proença acabou salvando mais de 300 estudantes de uma ação tramada por um grupo paramilitar.
“Seria um massacre”, conta ele.
Reunidos na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil para um protesto, um ato de resistência ao golpe, os estudantes foram atacados com bombas de gás; o grupo paramilitar estava armado com metralhadoras.
“Depois de umas escaramuças, eles foram embora”, lembra Proença, contando como entrou no prédio e liberou os estudantes.
Ao voltar para sua unidade, o golpe já estava consolidado. O então capitão dos Dragões da Independência, legalista e defensor da democracia, foi imediatamente preso e, mais tarde, cassado.
“Quando saí da prisão, foi uma perseguição implacável. Havia um agente do Dops que me seguia dia e noite, até onde eu jogava pelada de veteranos”, conta ele na entrevista concedida em 18 de março de 2024, um dia depois de Proença ter completado 93 anos.
Apesar da perseguição, ele conseguiu estudar, se tornar professor, mestre e doutor em literatura e hoje comanda a mais longeva oficina literária do país.
O hoje coronel do Exército contesta o suposto caráter nacionalista do golpe: “Como eles são patriotas, se a Quarta Frota estava lá? Se o embaixador dos Estados Unidos estava ali?”
Ele condena as ações do governo Bolsonaro e afirma: “Está se diluindo a memória do golpe de 64”.
O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira.
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