“Os Estados Unidos tentarão fazer o máximo possível para manter sua hegemonia, serem o número um no mundo e continuarem a ditar sua vontade. Mas o mundo está mudando.”

É a avaliação que faz o deputado Denis Parfenov, um dos representantes do Partido Comunista da Federação Russa na Duma (o congresso da Rússia), em entrevista ao TUTAMÉIA realizada na Praça Vermelha no dia 18 de maio, depois da festa de adesão de milhares de crianças à organização Jovens Pioneiros.

Na conversa, ele fala sobre a situação russa e mundial, a ação do partido comunista e o trabalho pela unificação da luta mundial antifascista, assim como a luta pela paz.

Acompanhe a seguir um resumo da entrevista, apresentada de acordo com os principais temas das perguntas feitas (clique no vídeo acima para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no canal TUTAMÉIA TV).

SOBRE A RÚSSIA

Infelizmente testemunhamos aqui muitas injustiças e vemos com nossos próprios olhos muitas outras coisas negativas, que são características da sociedade capitalista. É por isso que nós, como Partido Comunista da Federação Russa, estamos na oposição.

Somos patriotas, claro, mas isso nos dá uma chance ainda melhor de analisar e avaliar o que está acontecendo aqui, porque percebemos que isso continuará por muito tempo, até que o país se torne independente. Enquanto os capitalistas, enquanto o grande capital tiver os meios de produção em suas mãos isso continuará, porque o capitalismo traz exploração e tudo mais. Mas isso é característico da sociedade capitalista, é por isso que somos contra.

SOBRE A OPERAÇÃO MILITAR ESPECIAL E O ESTABELECIMENTO DA PAZ

Aqui, ao analisar a situação em termos da situação militar, devemos nos basear no fato de que, por um lado, a proteção das pessoas em Donbass, os falantes de russo, é nosso dever sagrado. Mas, ao mesmo tempo, entendemos que a batalha que está acontecendo entre os principais estados capitalistas pela transferência de poder deve ser interrompida. Essa foi a linha política apontada por um fórum internacional antifascista, que realizamos recentemente. Nossos eventos apontam a direção certa para restaurar a paz.

Entendemos que o que está acontecendo em Donbass está sendo feito no interesse do povo de língua russa. É por isso que protegemos a população russa, que é a maioria, e todos aqueles que falam russo.

Então, o que está acontecendo lá é lamentável, mas apoiamos o povo de Donbass, que está lutando por sua libertação nacional.

Por outro lado, vemos sinais de contradições interimperialistas e intercapitalistas entre os países, e o fato de o Ocidente ter se unido contra a Rússia também é um indício de uma guerra maior, muito além da guerra ou operação pela independência da população de língua russa, que teve seu referendo, como vocês sabem, e optou pela independência. É por isso que, sim, claro, nós os apoiamos.

AÇÃO BELICISTA DOS EUA

A grande ideia do Ocidente sempre foi desmembrar as repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética. É por isso que eles agiram, na medida do possível, para trazer a situação ao que está agora. Essa é a ideia porque consideram que isso enfraquecerá a Rússia.

E essas tentativas de trazer essas contradições entre nossas repúblicas, entre nossas nações que compunham a União Soviética, são muito perigosas. E, sim, vemos isso como uma tentativa de continuar o confronto militar que pode resultar em uma guerra maior.

MULTILATERALISMO

Nos últimos anos, o equilíbrio de poder no mundo mudou significativamente.

Se os Estados Unidos governavam individualmente, agora, em termos econômicos, a China está em primeiro lugar. Em um futuro próximo, talvez, a Índia fique em segundo. Países do Sudeste Asiático e da América do Sul aumentaram significativamente seu desenvolvimento econômico. E, nesse contexto, é claro, os imperialistas temem perder sua hegemonia, e estão tentando mantê-la.

Nesse sentido, os esforços de todos os povos do mundo para construir uma ordem mundial multipolar podem ajudar a tornar a situação mais equilibrada no planeta e evitar o pior.

Nos últimos anos, vemos que o equilíbrio vem mudando, tanto político quanto econômico. Antes disso, era mais ou menos um mundo unipolar. Mas agora, os imperialistas, especialmente os Estados Unidos, percebem que estão perdendo seu poder, estão perdendo sua força.

E outros países estão se apresentando, como Brasil, China, Índia e talvez alguns outros. Mas é claro que os Estados Unidos tentarão fazer o máximo possível para manter essa ideia de hegemonia, de ser o número um no mundo e continuar a ditar sua vontade. Mas o mundo está mudando. Está se voltando, bem, esperamos que esteja se voltando para a esquerda, que outras forças, forças de esquerda, estejam se levantando.

E apoiamos todos os esforços que visam confrontar os apetites imperialistas.

RELAÇÕES COM A ESQUERDA INTERNACIONAL

Em geral, a ideia da nova internacional está batendo à porta. E é óbvio que, nas condições em que há mais contradições no mundo, a necessidade de unir as forças da esquerda está aumentando.

E nosso Partido Comunista está fazendo muito para avançar nessa direção. Nossos esforços conjuntos são mais necessários do que nunca neste momento específico. Portanto, um grande fórum internacional antifascista foi realizado recentemente na Rússia.

Visitantes do exterior, próximos e distantes, vêm até nós periodicamente para grandes datas e eventos. Realizamos reuniões internacionais. Temos boas relações com partidos comunistas das antigas repúblicas soviéticas.

Em geral, esforços significativos estão sendo feitos para unir comunistas, esquerdistas, patriotas em todo o mundo, que valorizam a paz, que valorizam a justiça social e que estão prontos para lutar contra o terrorismo pró-fascista juntos. Havia no encontro internacional antifascista 162 delegações de 92 países. Esta foi mais uma tentativa de reunir as forças de esquerda.

É por isso que acolhemos não apenas os partidos comunistas, mas todas as forças de esquerda interessadas em se juntar aos nossos esforços. E não apenas nesse fórum, também temos relações bilaterais, temos intercâmbio de delegações. Camaradas de nossos partidos irmãos, de ex-repúblicas soviéticas, também vêm aqui de tempos em tempos.

Temos esta organização, que se chama UCP-URSS, a União dos Partidos Comunistas da ex-URSS. Existem partidos comunistas no território da União Soviética em todas as repúblicas.

Nós nos reunimos com eles de tempos em tempos, discutimos nossos próximos passos, o que fazer, porque, sim, todos os esforços são necessários.

Todos os tipos de esforço são necessários.

DIA DA VITÓRIA, STÁLIN, COMUNISMO

As ideias de justiça social têm uma origem muito ampla entre o povo e são percebidas como muito importantes. Na verdade, é por isso que o nosso partido pode continuar sua luta, porque o povo precisa dele.

Portanto, a ideia de justiça social circula amplamente aqui no país, porque esse sempre foi o sonho da humanidade, especialmente na Rússia.

Ao mesmo tempo, o Dia da Vitória é, naturalmente, um dos eventos mais importantes para a autoconsciência do nosso povo. O fato de ter conquistado essa grande vitória permitiu à União Soviética ganhar enorme poder e autoridade na arena internacional. E agora, ela ainda desempenha um papel muito importante na autoconsciência do nosso povo. Então, esse é realmente o feriado mais importante, que não apenas celebramos, mas neste dia prestamos homenagem a todos aqueles que deram suas vidas e pereceram na linha de frente por nós.

E eles, com seu exemplo, provaram que a vitória é possível, que o socialismo pode derrotar o capitalismo se todas as forças estiverem unidas. E era importante mostrar a importância da luta contra os nazistas, contra tudo isso.

Infelizmente, muitas vezes enfrentamos tentativas de silenciar o papel do socialismo, o papel de Stalin nesta vitória. É por isso que apenas saudamos e acolhemos todos os esforços que estão sendo feitos agora. E nós somos os primeiros a trabalhar para não deixar as pessoas esquecerem este nome. E apenas para lembrar mais uma vez: foi Stalin, foi o socialismo, foi a União Soviética que derrotou o fascismo na Segunda Guerra Mundial.

BUROCRACIA E VELHICE DO PC

O fato de que estão sempre espalhando mitos sobre os comunistas, desde os tempos soviéticos, não é novidade para nós. E nós refutamos esses mitos e lutamos contra eles. Não é novidade para nós que existem muitos mitos sobre o Partido Comunista. E isso já acontecia nos tempos soviéticos, para não mencionar a situação atual.

Sim, são muitos contos de fadas sobre o nosso partido. Mas vocês viram com seus próprios olhos o que estava acontecendo aqui hoje. Então, são crianças, vocês não podem torná-los burocráticos, sabem?

Quanto a mim, pessoalmente, li muitos livros marxistas quando era jovem. Graças a isso, eu estava imbuído de ideias. Em algum momento, percebi que ler é bom, claro, mas você também precisa

agir. E desde então, entrei para a organização da juventude, a liga Konsomol, depois para o partido. E agora tenho servido às nossas ideias e à nossa organização por quase 20 anos.

APESAR DO FIM UNIÃO SOVIÉTICA?

Sim. Apesar disso. Apesar da desintegração da União Soviética. Pessoalmente, eu não chamo isso de colapso. Não, não é colapso, é desintegração, que foi feita deliberadamente. Então, apesar da desintegração da União Soviética, mesmo naquela época, era especialmente difícil se tornar um membro do partido. Porque muita sujeira foi jogada sobre o nosso partido. Mas, sim, tive a coragem para tomar essa decisão. É a minha decisão e a minha luta. A luta continua.

MENSAGEM

O mais importante é acreditar em nossas ideias, não desistir de lutar por elas e ter um espírito vigoroso.  Porque o desespero é um pecado mortal. A falta de entusiasmo pode, na verdade, enterrar todas as boas ideias. Então, é preciso estar cheio de entusiasmo, ter conhecimento e continuar. Muito obrigado.

Delegados ao II Fórum Antifascista se dirigem ao Mausoléu de Lenin na Praça Vermelha (Hai Duong)

A LUTA CONTRA O FASCISMO

É A TAREFA COMUM E URGENTE

DAS FORÇAS PROGRESSISTAS EM TODO O MUNDO

Ao longo da entrevista, o deputado Parfenov citou o encontro mundial antifascista realizado em Moscou no final de abril. Representantes de mais de 150 partidos e organizações de mais de noventa países participaram do encontro. A carta de encerramento do evento é a seguinte:

Declaração do II Fórum Internacional Antifascista

Moscou, 23 de abril de 2025

Nós, participantes do II Fórum Antifascista em Moscou, reafirmamos e apoiamos o Manifesto para a união dos povos do mundo “Salvaguardar a Humanidade Contra o Fascismo”, adotado em 22 de abril de 2023 em Minsk pelo I Fórum Internacional Antifascista.

O curso dos acontecimentos indicou a proposição de que a causa da agressividade imperialista no mundo moderno é o agravamento da crise geral do capitalismo. No final do século XX, a contrarrevolução na URSS e nos países do Leste Europeu enfraqueceu temporariamente o polo socialista do planeta e desatou as mãos da reação. Em plena consonância com a teoria leninista do imperialismo, os EUA e outros predadores capitalistas estão buscando a hegemonia mundial pelos métodos mais hediondos, incluindo o fomento de regimes neofascistas.

De acordo com a ideologia fascista de escravização dos povos, os regimes imperialistas mancharam suas reputações com agressões bárbaras contra a Iugoslávia, Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria, apoiando os sionistas israelenses que desencadearam o massacre na Palestina, que praticamente se transformou em um genocídio do povo palestino.

Ameaçando uma nova guerra mundial, o imperialismo internacional está atiçando tensões em várias regiões do mundo e gerando novos conflitos.

Os países da OTAN se propuseram a demonizar a Rússia, derrotá-la militarmente e desmembrá-la da mesma forma que a União Soviética. Para atingir esse objetivo, uma cabeça de ponte agressiva estava sendo criada na Ucrânia. O banderovismo, uma forma de nazismo que formou a base da russofobia e da disseminação da ideologia fascista, estava sendo nutrido lá. Em fevereiro de 2022, a política antirrussa liderada pelos EUA das forças armadas da OTAN envolveu quase 50 países satélites. Os recursos econômicos, políticos e militares do capital mundial, incluindo mercenários de guerra, foram comprometidos com o ataque contra a Rússia. O fortalecimento do regime neonazista em Kiev e seu bombeamento de armas devem ser impedidos. Os bandidos de Bandera e seus principais no Ocidente devem ser condenados com justiça e o regime fascista em Kiev deve ser totalmente liquidado.

Motivos revanchistas são cada vez mais evidentes na ideologia e na política do bloco ocidental. Eles são instigados pelas mesmas forças que sofreram uma derrota nas mãos da União Soviética e seu Exército Vermelho em 1945. O anticomunismo é um dos principais sinais do ressurgimento do fascismo na Ucrânia, nos países bálticos e em outros países ocidentais. Isso está em total consonância com a prática dos fascistas de Hitler, que criaram um Pacto Anticomintern. Tudo o que está acontecendo na União Europeia é essencialmente um prelúdio para a criação do Quarto Reich.

Os povos do mundo devem conter qualquer tentativa de vingança nazista. Exigimos a renúncia total a todas as formas de descomunização na ideologia e nas políticas estatais. A luta contra o neonazismo é tarefa de todas as pessoas pensantes, corajosas e decentes do planeta. Ela não pode ser adiada. Deve ser travada aqui e agora, por todos os meios disponíveis e reunindo todos os aliados possíveis!

Na véspera do 80º aniversário da Grande Vitória sobre o nazismo de Hitler e o militarismo japonês na Segunda Guerra Mundial, declaramos: o fim definitivo do fascismo e da ameaça de guerras mundiais só pode ser alcançado com o fim do imperialismo. Apoiamos sem reservas a transformação da luta contra o fascismo na luta pela renovação socialista de todos os países do planeta.

A batalha contra o fascismo não pode tolerar pausas e armistícios!

Junte-se às fileiras dos lutadores contra o neofascismo, pelo progresso social e pelo socialismo!

Não permitiremos que o mundo seja destruído!

¡No pasarán! Eles não passarão!

Viva a frente única das forças progressistas!