Esse foi o aviso que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo recebeu em dezembro de 1975 –na lista dos intelectuais visados pela ditadura estavam ainda Cesar Lattes e Hilda Hilst, como diz ao TUTAMÉIA o professor da Unicamp.
O alerta veio menos de dois meses depois do assassinato de Vladimir Herzog, e Belluzzo não hesitou: depois da ceia de Natal, partiu para o exílio, que acabou durando cerca de um ano.
Na época, o economista assessorava a direção do MDB, dava palestras em sindicatos, denunciava a política imposta pela ditadura.
Aliás, tinha se colocado na oposição desde primeiro de abril de 1964, quando tinha 21 anos –formou-se no ano seguinte.
Naquele dia, cruzou com o direitista filho de direitista Miguel Reale Jr. no pátio da faculdade de direito da USP, no largo São Francisco. Trocaram ideias de forma exaltada.
“Por causa da discussão, fui dias mais tarde interrogado num IPM (inquérito policial militar), por um militar que se instalou na faculdade”, conta ao TUTAMÉIA nesta entrevista realizada em 22 de março de 2024.
Na conversa, ele conta de sua ligação com Ulysses Guimarães, destacando a importância do “conciliador radical” no processo de resistência democrática e de derrubada da ditadura militar.
“Conciliador radical” é também como ele caracteriza o presidente Lula. Para Belluzzo, “o bloqueio que estão fazendo contra as políticas desenvolvimentistas de Lula é muito grande. É como um time que está no ataque, mas precisa enfrentar uma forte retranca”.
O depoimento integra uma série de entrevistas sobre o golpe militar de 1964, que está completando sessenta anos. Com o mote “O que eu vi no dia do golpe”, TUTAMÉIA publica neste mês de março mais de duas dezenas de vídeos com personagens que vivenciaram aquele momento, como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Roberto Requião, Djalma Bom, Luiz Felipe de Alencastro, Ladislau Dowbor, José Genoíno, Roberto Amaral, Guilherme Estrella, Sérgio Ferro e Rose Nogueira.
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