“O processo de desmilitarização e desnazificação da Ucrânia deve acontecer consecutivamente. O meu prognóstico pessoal é de que a operação militar deve terminar próximo do fim de maio. No que se refere ao processo de desnazificaçao, isso deve levar alguns anos.”

Essa é a avaliação do vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores do Congresso da Federação Russa, deputado Dmitry Novikov, do Partido Comunista da Federação Russa. Ele foi entrevistado pelo jornalista José Luiz de Roio e pelo historiador Raúl Carrion no programa Roda de Conversa, do jornalista Osvaldo Bertolino, retransmitido ao vivo por TUTAMÉIA.

Falando desde Moscou no dia 17 de março, o líder comunista começou fazendo uma descrição dos objetivos da guerra e da posição do seu partido (clique no vídeo para acompanhar a íntegra e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

“A operação que está sendo realizada é chamada no meio informativo russo de operação especial ou operação militar especial. Os dois principais objetivos são a desmilitarização e a desnazificaçao da Ucrânia. Junto desses há pelo menos mais uma terceira tarefa, o status de neutralidade da Ucrânia e não adesão ao bloco da OTAN, assim como a defesa das populações das repúblicas populares de Lugansk e Donestk e o reconhecimento do referendo sobre o retorno da Criméia à Federação russa. Embora sobre questões da política interna aconteçam acaloradas discussões entre o Partido Comunista da Federação Russa (PCFR) e o Partido Rússia Unida, do governo, e o próprio governo, no que se refere aos objetivos declarados, o PCFR os considera importantes, atuais e necessários.  É exatamente nestes termos, desmilitarização e desnazificação, é que o problema deve ser resolvido. A união dessas tarefas dá grande apoio à operação militar especial dentro do território da Ucrânia e na sociedade russa.”

Na sequência, Novikov apontou algumas das dificuldades desse processo e seu prognóstico para o desenrolar da ação:

“Na minha opinião pessoal, a desnazificação será uma tarefa muito mais difícil do que a desmilitarização. A minha opinião pessoal é que, no que se refere à desmilitarização da Ucrânia, é uma tarefa que pode ser cumprida em um período histórico relativamente curto, por meios militares. Já a tarefa de desnazificaçao será bem mais difícil.”

Ele segue:

“Como é sabido, agora estão ocorrendo processos de negociações entre as duas delegações russa e ucraniana. Durante algum tempo essas negociações ocorreram na Bielorrússia e agora estão ocorrendo via videoconferência. Me parece que o principal problema dessas conversações é que a delegação russa tenta determinar para o lado ucraniano a completa desmilitarização, e a delegação ucraniana tenta conseguir um meio termo.

Então surge uma questão: é possível deixar de ser nazista em 50% e ao mesmo tempo, conseguir entendimentos com nazistas? Não consigo entender como os que ontem eram 100% nazistas podem se tornam 50% nazistas e 50% pessoas adequadas. Por isso, se a delegação russa nas conversações for consequente, a questão vai ser resolvida não com meio termo, mas pela ordem: desmilitarização e desnazificação.”

NAZISMO E DEMOCRACIA NA UCRÂNIA

O parlamentar russo conclui sua exposição tratando da questão democracia x nazismo na Ucrânia.

“Eu faço uma pergunta, que às vezes surge nas discussões: o nazismo é a ideologia reinante na Ucrânia?  Não há aqui nenhum exagero. Eu respondo que sim, a ideologia nazista no território da Ucrânia hoje é a ideologia reinante, e eu estou pronto para trazer elementos probatórios.”

Ele aponta quatro pontos que sustentam sua tese.

PRIMEIRO PONTO – “Durante todos esses anos no território da Ucrânia ocorreu uma glorificação de elementos criminosos nazistas. Foi dada liberdade de ação para organizações nazistas, inclusive aquelas que abertamente usam simbologia nazistas”.

SEGUNDO PONTO — “Contra as forças de esquerda, inclusive sobre o Partido Comunista da Ucrânia, durante todos esses anos foram feitas as mais fortes pressões e foi iniciado o processo jurídico para a proibição do Partido Comunista na Ucrânia. Os comunistas foram as primeiras vítimas do golpe de estado de 2014. Os serviços especiais da Ucrânia prenderam uma série de deputados e camaradas do Partido Comunista, das organizações da juventude, do Komsomol, em particular o primeiro secretário do Komsolmol, o camarada Kononovich e seu irmão”. [N.R.: No domingo, 20 de março, Zelensky usou a lei marcial para suspender onze partidos da Ucrânia.]

TERCEIRO PONTO – “Todos os eventos que ocorreram ao redor das repúblicas populares de Lugansk e Donestk, onde inclusive civis foram atacados pelo exército da Ucrânia, batalhões nacionalistas e formações militares, que usaram até armas proibidas”.

QUARTO PONTO — “O quarto grupo de provas se refere à política interna ucraniana. Zelensky, nas últimas eleições para presidente, foi eleito antes de tudo como um presidente da paz, presidente que pararia a guerra no Donbass, presidente que resolveria a questão dos nazistas, presidente que daria liberdade para o uso do idioma russo, presidente que proporcionaria a amizade com a Rússia, e por todas essas coisas os cidadãos da Ucrânia votaram em Zelensky, recusando Porochenko, que era considerado o presidente dos nacionalistas. Mas muito rapidamente ocorreu uma transformação: o sr. Zelensky, de presidente da paz antifascista, se transformou no presidente que apoia os movimentos nacionalistas. Aconteceu uma situação em que a minoria nazista se mostrou capaz de transformar Zelensky pelo seu molde. Isso significa que o mecanismo democrático na Ucrânia não funciona”.

FIM DA GUERRA

Encerrada a exposição inicial de Novikov, surgiu a questão do prognóstico quanto ao fim da guerra, já que ele havia afirmado que o processo de desmilitarização da Ucrânia poderia ocorrer em prazo relativamente curto. Ao que ele respondeu:

“O processo de desmilitarização e desnazificação da Ucrânia deve acontecer consecutivamente. O meu prognóstico pessoal é de que a operação militar deve terminar próximo do fim de maio. No que se refere ao processo de desnazificação, isso deve levar alguns anos.”

OS COMUNISTAS E PUTIN

O deputado foi então questionado sobre as relações entre os comunistas e o governo Putin. Foi lembrado discurso do dirigente russo do dia anterior, em que ele havia advertido os oligarcas no sentido de que os interesses nacionais estão acima dos privados.

Novikov dividiu sua resposta em duas partes, as questões militares e os problemas internos do país.

“Houve muitas questões abordadas no discurso de Putin. No que se refere à parte da fala dedicada às críticas às estruturas oligárquicas, é difícil não concordar. Sobre a situação na Ucrânia, no todo também concordamos.

“Foi falado sobre uma série de medidas que devem ajudar a população da Rússia, os trabalhadores e operários, a sobreviver a esta situação de pressão de sanções e piora da situação social que pode ser prevista.

“No geral, a situação na Rússia sob as sanções do ocidente vai depender do quão o governo da Rússia vai estar preparado para empregar métodos de regulação econômica. Em resumo: qual a linha econômica o governo vai adotar.

“O PCFR tem como primeiro ponto de programa a necessidade da nacionalização dos principais setores da economia e do sistema bancário. Os representantes do governo sempre recusaram isto categoricamente. Agora os próprios representantes do Partido do Governo começaram a falar sobre a necessidade de regulação. Mas as vezes parece muito engraçado quando eles olham o tema das nacionalizações, por exemplo, no caso do McDonald’s, porque eles interromperam seu trabalho na Rússia. Claro que nós vemos isso como nacionalizações fake.

“Mas as coisas que são informadas sobre regulações estatais, nós como comunistas saudamos, porque isso é um passo para o capitalismo de estado, e o capitalismo de estado é um passo para o socialismo.”

CHINA

O líder comunista também comentou as relações de seu país com a China:

“Me parece que a China tem uma posição bastante elevada e correta e muito importante, que Pequim aponta diretamente como fonte do conflito na Ucrânia a política dos Estados Unidos e a expansão da OTAN.

 

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AGRADECIMENTO — Agradecemos a rgio Lessa, que gentilmente transcreveu e traduziu a fala de Novikov. Sérgio dirige a Sputnik Commercial & Consulting, comércio exterior e consultorias comerciais no Leste Europeu, que representa no Brasil a vodka KALASHNIKOV.