“A fotografia é uma linguagem universal. Gosto de dizer que a fotografia é um espelho e uma ponte. Um espelho porque você se vê nos demais, e uma ponte porque aproxima de outras realidades. A fotografia aproxima as pessoas de uma maneira que é muito universal.”
Assim fala a premiadíssima fotógrafa Adriana Zehbrauskas, conversando com TUTAMÉIA desde Phoenix, Arizona, dias depois de ter voltado da dramática cobertura do recente terremoto no Haiti –suas fotos estamparam por várias vezes a capa do “The New York Times”. Na entrevista, ela conta um pouco de suas experiências pelo mundo e fala de seu compromisso de mostrar “a humanidade e a dignidade das pessoas”. Orientadora de oficinas e professora de fotografia, também dá dicas para quem pretende se embrenhar por esse caminho (clique no vídeo para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Uma das vencedoras neste ano do prêmio Maria Moors Cabot, um dos mais importantes galardões do jornalismo no mundo, ela diz:
“Há o clichê de que uma foto vale mais do que mil palavras. Não é valer mais do que mil palavras, é que na fotografia você se vê, se reflete. Você não precisa saber falar a língua daquela pessoa para saber o que ela está passando. É um instrumento de aproximação. Por isso essa minha tentativa de fazer a fotografia muito voltada para os valores humanos, para o ser humano, muito pontual nas histórias de cada um.”
É um olhar que ela busca ter mesmo na correria da cobertura de desastres, no trabalho de fotojornalismo, como mostram as fotos feitas recentemente no Haiti: “Eu procuro mostrar a humanidade das pessoas e a dignidade das pessoas, principalmente nessas situações em que elas estão muito vulneráveis. Isso para mim é uma coisa importante, muito clara e muito consciente. Não é uma coisa que acontece, é uma coisa que eu busco, conscientemente”.
Além das cenas de desespero, da tragédia que testemunhou, ela também várias vezes esteve em situação de risco:
“Quando a gente estava voltando de Jeremy, que é uma cidade mais para o norte, também muito atingida pelo terremoto, quando vimos um caminhão parado, que parecia estar levado ajuda. A gente estava do outro lado da estrada, o caminhão parado, com muita gente já em volta. Eu decidi parar o carro, descer para fotografar. No que eu estava andando, ia cruzar a estrada, começaram os tiros. Só escuto meu segurança gritando “Gun shot! Gun shot”. Ele me agarra, puxa de volta de carro… Momentos em que tudo parece estar calmo e, em segundos, a coisa sai fora de controle.”
Coisa que pode acontecer mesmo próximo da casa onde mora: na cobertura de manifestações de trumpistas antivacina no Arizona, teve de usar colete à prova de balas, por causa da agressividade da turba contra os jornalistas –só voltou a fazer uso da proteção na viagem ao Haiti.
Ao lado dos perrengues, há as compensações pelo trabalho, a descoberta em cada foto: “Para mim, o que mais me impacta é a resiliência das pessoas e a dignidade com que elas tentam continuar vivendo. Eu nunca me canso de me surpreender com essa resiliência humana, essa capacidade do ser humano de se levantar e de praticar atos de generosidade”.
Professora de fotojornalismo, ela fala a quem quer começar no ramo: “O mais importante é desenvolver a própria linguagem. Aprender a técnica é importante, mas isso é uma prática de todo o dia. É uma coisa do olhar. Prestar atenção nas coisas. A fotografia não é apenas ver. A fotografia é ouvir. Quando você está fazendo uma história, você chega com uma pergunta, não chega com uma missão. O que está acontecendo aqui? O que eu posso fazer? O importante é sempre escutar e observar”.
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