O conteúdo da reunião de Bolsonaro com seus ministros em 22 de abril passado, divulgado hoje, deixou o Brasil chocado frente à falta de compostura e civilidade demonstrada pelo presidente e seus acólitos. Mas uma pessoa ficou especialmente indignada: a arquiteta Clara Ant, assessora especial do presidente Lula em seus dois mandatos.

Ela testemunhou todas as reuniões ministeriais nos oito anos de governo Lula e deu entrevista ao TUTAMÉIA para contar daqueles tempos e analisar a ação de Bolsonaro (confira no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Para Ant, que foi deputada pelo PT na Constituinte estadual de São Paulo em 1986, o vídeo divulgado nesta sexta-feira mostra o que parece “uma turma de mafiosos reunida para ver como aproveitam para ferrar todo mundo de uma vez, agora que está todo mundo em casa”.

E segue: “Cada detalhe que aparece só aumenta minha indignação. Eu queria aqui realmente insistir que eu acho que essa gente é responsável pela forma como a política foi desmoralizada, como ela foi demonizada. Gente como eles faz pensar que política é isso, quando a política é exatamente a maneira de estruturar e organizar uma disputa de projetos, de propostas para conduzir uma país, uma cidade, um estado”.

O que se viu hoje, ressalta, está longe do que acontecia nos encontros que ela testemunhou: “Realmente, as pautas principais nas reuniões do presidente Lula, desde o começo, foram a maneira de acabar com a fome, a maneira de enfrentar a miséria, a maneira de aumentar a renda, a maneira de construir escolas, faculdades, escolas técnicas, a questão da saúde, do meio ambiente. Tinha polêmicas? Claro que tinha polêmica, em várias áreas. Alguns ministros pensavam de uma forma diferente, de um formato ou de outro, mas nunca uma coisa voltada para a construção de um…”

E volta para o tempo presente: “Eu estou sentindo [a reunião de Bolsonaro com seus ministros] como um antro de uma corja, a imagem que me ficou é de uma corja, no seu antro, tratando de como ferrar com quem está fora dessa turma. O Brasil está sendo desmoralizado. Essa gente, essas pessoas que participaram dessa reunião e que se manifestaram, eles não podem ter lugar na República, eles não podem ser os que decidem os nossos destinos, de qualquer um de nós, de qualquer uma de nós. Não é possível”

Completando assim: “A cada dia piora. E tudo isso, como todo mundo está observando, em meio a um calvário que a população está vivendo, uma tristeza enorme, perdas e mais perdas. Não dá para se conformar com isso”.

Não só ela não se conforma. A sociedade brasileira, por meio de suas instituições manifestou repúdio e indignação. Notas de sindicatos e entidades as mais diversas denunciaram o atentado ao Brasil que é o governo Bolsonaro. Uma delas foi lida ao final da entrevista de TUTAMÉIA com Clara Ant, e a reproduzimos a seguir.

NOTA DOS PARTIDOS DA OPOSIÇÃO
As Bancadas dos partidos de oposição na Câmara dos Deputados – PT, PCdoB, PSOL, PSB, PDT e Rede – manifestam seu veemente repúdio ao conteúdo de vídeo de reunião ministerial do governo Bolsonaro, bem como à nota divulgada pelo general Augusto Heleno, com um ataque inaceitável ao Supremo Tribunal Federal.

A reunião ministerial revela o baixo nível dos integrantes do atual governo. Como bárbaros, jogam a República no caos, desrespeitam as leis, as instituições e ignoram a Constituição.

O vídeo desfaz qualquer legitimidade do atual governo no comando dos destinos da Nação, pois escancara o desprezo à democracia, à vida e às conquistas civilizatórias do povo brasileiro. Ademais, indica a tentativa de formação de milícias em defesa de um projeto antinacional e antidemocrático.

O presidente da República e o general Heleno não percebem que nenhuma autoridade está acima da Constituição e das leis. As manifestações do general, contrárias aos preceitos democráticos, não são novidade e se colocam em sintonia com a postura do presidente da República, que há tempos demonstra seu pouco apreço pela democracia.

A   estabilidade econômica e social do País só é possível com democracia, o fortalecimento de suas instituições, a harmonia entre os Poderes e o respeito às vidas do povo brasileiro. A democracia não comporta tutela militar.

Nesse momento dramático da vida nacional, com crise econômica agravada pela pandemia de coronavírus ante um governo incapaz de enfrentar os gigantescos desafios, o vídeo acelera a crise institucional, pois revela nitidamente como Bolsonaro e  seus ministros desprezam as instituições e o povo brasileiro.

Não aceitaremos nenhuma tentativa de quebra da ordem institucional. O Congresso Nacional está a postos para fazer cumprir seu papel. O processo de impeachment de Bolsonaro deve ser aberto o mais rápido possível, para a retirada de um presidente incapaz, irresponsável e danoso ao País.

Brasília, 22 de maio de 2020

José Guimarães (PT-CE)- Líder da Minoria na Câmara

André Figueiredo (PDT-CE) – Líder da Oposição na Câmara

Alessandro Molon (RJ)- Líder do PSB na Câmara

Enio Verri (PR)- Líder do PT na Câmara

Perpetua Almeida (AC) – Líder do PCdoB

Wolney Queiroz   (PE) – Líder do PDT na Câmara

Fernanda Melchionna (RS)- Líder do PSOL

Joenia Wapichana (RR)- Líder da Rede