“Os governos que fizeram troça do coronavírus, como os da Inglaterra e dos Estados Unidos, estão pagando de forma assustadora, histórica, épica”, alertou o cientista MIGUEL NICOLELIS em entrevista ao TUTAMÉIA nesta segunda, 30.03, em que fez uma avaliação do avanço da pandemia no mundo e no Brasil.

Apontou a explosão do número de casos e do número de infectados nos Estados Unidos, dando como exemplo Nova York, onde o número de chamados para o 911 está maior do que o registrado no dia 11 de setembro de 2001, quando ocorreu o atentado que derrubou as torres gêmeas na cidade.

O pior, destaca, é que os serviços de saúde dos EUA já não estão dando conta, exatamente porque militantes da área –médicos, enfermeiras, atendentes—estão no grupo dos mais infectados.

Nicolelis alertou que a situação no Brasil ainda vai pior muito e piorar muito rapidamente, tanto pelas condições de pobreza em que vive grande parte da população quanto pela ação irresponsável do presidente da República, a quem ele trata como “inominável”.

“Estamos em uma guerra biológica”, disse Nicolelis. E, para entrar numa guerra, é preciso ter comando.

O cientista defendeu a constituição de uma comissão de alto nível, um verdadeiro comitê de salvação nacional, reunindo as instituições responsáveis da República –como Congresso e STF—mais partidos políticos e governadores.

Afirmou que os governadores estão se destacando no enfrentamento à crise e podem vir a constituir o comando que está faltando para o Brasil.

MANIFESTO DAS OPOSIÇÕES PEDE RENÚNCIA DE BOLSONARO

Na entrevista, também lembramos que, na manhã de hoje, foi divulgado manifesto assinado pelos ex-candidatos à presidência da República Guilherme Boulos, Fernando Haddad e Ciro Gomes, mais governadores e dirigentes partidários, em que denunciam as ações criminosas de Bolsonaro e dizem que ele deveria renunciar pelo bem do Brasil.

O documento também aponta medidas de emergência para enfrentar a crise. A seguir, a íntegra do texto.

O BRASIL NÃO PODE SER DESTRUÍDO POR  BOLSONARO

O Brasil e o mundo enfrentam uma emergência sem precedentes na história moderna, a pandemia do coronavírus, de gravíssimas consequências para a vida humana, a saúde pública e a atividade econômica.

Em nosso país a emergência é agravada por um presidente da República irresponsável. Jair Bolsonaro é o maior obstáculo à tomada de decisões urgentes para reduzir a evolução do contágio, salvar vidas e garantir a renda das famílias, o emprego e as empresas. Atenta contra a saúde pública, desconsiderando determinações técnicas e as experiências de outros países. Antes mesmo da chegada do vírus, os serviços públicos e a economia brasileira já estavam dramaticamente debilitados pela agenda neoliberal que vem sendo imposta ao país. Neste momento é preciso mobilizar, sem limites, todos os recursos públicos necessários para salvar vidas.

Bolsonaro não tem  condições de seguir governando o Brasil e de enfrentar essa crise, que compromete a saúde e a economia. Comete crimes, frauda informações, mente e incentiva o caos, aproveitando-se do desespero da população mais vulnerável. Precisamos de união e entendimento para enfrentar a pandemia, não de um presidente que contraria as autoridades de Saúde Pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários. Basta! Bolsonaro é mais que um problema político, tornou-se um problema de saúde pública. Falta a Bolsonaro grandeza. Deveria renunciar, que seria o gesto menos custoso para permitir uma saída democrática ao país.  Ele precisa ser urgentemente contido e responder pelos crimes que está cometendo contra nosso povo.

Ao mesmo tempo, ao contrário de seu governo – que anuncia medidas tardias e erráticas –  temos compromisso com o Brasil. Por isso chamamos a unidade das forças políticas populares e democráticas em torno de um Plano de Emergência Nacional para implantar as seguintes ações:

-Manter e qualificar as medidas de redução do contato social enquanto forem necessárias, de acordo com critérios científicos;

-Criação de leitos de UTI provisórios e importação massiva de testes e equipamentos de proteção para profissionais e para a população;

-Implementação urgente da Renda Básica permanente para desempregados e trabalhadores informais, de acordo com o PL aprovado pela Câmara dos Deputados, e com olhar especial aos povos indígenas, quilombolas e aos sem-teto, que estão em maior vulnerabilidade;

-Suspensão da cobrança das tarifas de serviços básicos para os mais pobres enquanto dure a crise,

-Proibição de demissões, com auxílio do Estado no pagamento do salário aos setores mais afetados e socorro em forma de financiamento subsidiado, aos médios, pequenos e micro empresários;

-Regulamentação imediata de tributos  sobre grandes fortunas, lucros e dividendos; empréstimo compulsório a ser pago pelos bancos privados e utilização do Tesouro Nacional para arcar com os gastos de saúde e seguro social, além da previsão de revisão seletiva e criteriosa das renunciais fiscais, quando a economia for normalizada.

Frente a um governo que aposta irresponsavelmente no caos social, econômico e político, é obrigação do Congresso Nacional legislar na emergência, para proteger o povo e o país da pandemia. É dever de governadores e prefeitos zelarem pela saúde pública, atuando de forma coordenada, como muitos têm feito de forma louvável. É também obrigação do Ministério Público e do Judiciário deter prontamente as iniciativas criminosas de um Executivo que transgride as garantias constitucionais à vida humana. É dever de todos atuar com responsabilidade e patriotismo.

ASSINAM (em ordem alfabética):

Carlos Siqueira, presidente nacional do PSB.

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT.

Ciro Gomes, ex-candidato a Presidência pelo PDT.

Edmilson Costa, presidente nacional do PCB.

Fernando Haddad, ex-candidato à Presidência pelo PT.

Flavio Dino, governador do estado do Maranhão.

Guilherme Boulos, ex-candidato a Presidência pelo PSOL.

Gleisi Hoffmann, presidenta nacional do PT.

Juliano Medeiros, presidente nacional do PSOL.

Luciana Santos, presidenta nacional do PC do B.

Manuela D’Avila, ex-candidata a Vice-presidência (PC do B).

Roberto Requião, ex-governador do Paraná.

Sonia Guajajara, ex-candidata à Vide-presidência (PSOL)

Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul