Ele cantou, declamou, gargalhou. Mergulhou no teatro grego, falou de Nietzsche, Davi Kopenawa, Nise da Silveira, Oswald de Andrade, Lula, Stanislavski, Viveiros de Castro, Euclides da Cunha, Isaurinha Garcia, Chico Buarque, Xuxa, Glauber Rocha. Atacou Bolsonaro e Mooooro. Elogiou o MST e os estudantes. Definiu os tempos atuais como os de uma “felicidade guerreira”. E identificou a chegada de uma primavera no Brasil.
Assim foi a entrevista de José Celso Martinez Corrêa, 82, ao TUTAMÉIA. Dramaturgo, diretor de teatro, encenador, ator, ele é símbolo do Oficina e um dos nomes mais fortes do teatro brasileiro –onde ele atua há mais de 60 anos.
Zé Celso está em cartaz em São Paulo com “Roda Viva”, a peça de Chico Buarque de 50 anos atrás, que volta transformada em musical catártico, crítico dos tempos de neofascismo no poder e transbordante de energia de luta.
“Fui torturado e exilado, mas acho esse [governo] muito pior. Porque ele é imbecil. Estamos sendo governados pela imbecilidade. Os aliados, os militares fazem uma casta absolutamente absurda. O filho dele gritando dando berros, reclamando sempre. Eles estão avançando, destruindo a Amazônia –porque eles não perdem tempo. Vi coisas que nunca sonhava ver. Além de rir, temos que encontrar meios”, diz.
Sobre Moro, afirma: “Ele está um boneco, tem cara de gibi. Ele foi o responsável pela eleição do Bolsonaro. Ele criou, com a mídia, o bode expiatório chamado Lula. [Agora], o super-homem murchou”.
Zé Celso fala com entusiasmo das manifestações de maio e do público do teatro. “Está existindo uma corrente forte. Eu sinto uma primavera, a tal primavera de que o Lula fala, aliás. Existe essa primavera no Brasil, mas ela está tolhida por essa sombra. O maior inimigo da ignorância é a cultura. A vida é cultura. E a antropofagia é uma grande cultura porque mistura tudo, come de tudo”.
Ele não fala em resistência. “Acredito em re-existência. Você tem que se transformar quando acontece uma coisa violenta como um golpe, se reinventar e buscar uma estratégia nova. Não vale chorar a miséria. Tem que dar muito amor e encontrar saídas. A vida tem dentro dela a própria reinvenção dela. A gente precisa se re-existir. Precisa sempre morrer e renascer de novo”, diz ele na entrevista (veja a íntegra no vídeo no alto desta página).
Zé Celso fala de “Roda Viva”: “O Chico vai ficar besta quando ver, porque a peça está ótima. Tem mais amor, libido, poesia, arte de viver. Nesses momentos assim, a gente tem que aprender tudo de novo e valorizar as coisas que mais importam que são as forças da natureza. O mais importante na vida é a natureza e a nossa natureza. Você tem que lutar com ela, com a sua natureza humana, que é potente, que é poderosa. O ser humano tem poder se ele quiser exercer. Mas ele precisa atuar. Ele não pode simplesmente se entregar passivo e deixar se possuir, ser capturado. Tem uma máquina de captura. Entrou lá dentro, você deixa de ser uma pessoa humana. Você passa a ser um clichê”.
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