por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Francisco Fuzzetti de Viveiros Filho nasceu em São Luís do Maranhão. Ao completar dezoito anos, desceu para São Paulo e cursou a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Influenciado pelo ambiente musical da época, fez-se compositor e violonista. Àquela altura, conhecido apenas como Maranhão, tocou violão na premiada montagem de Morte e Vida Severina (1968), de João Cabral de Melo Neto, cujos versos Chico Buarque musicou.
Participou do terceiro Festival de Música Popular Brasileira (1967) da TV Record, onde conquistou o sexto lugar com o frevo “Gabriela”, cantado pelo MPB4. Para avaliar o valor do feito, lembremo-nos de que nesse festival Edu Lobo e Capinan ficaram em primeiro lugar com “Ponteio”, Gilberto Gil em segundo com “Domingo no Parque”, Chico Buarque e MPB4, com “Roda Viva”, ficaram em terceiro, Caetano Veloso (“Alegria, Alegria”) chegou em quarto eRoberto Carlos, com “Maria, Carnaval e Cinzas” (Luiz Carlos Paraná), conquistou o quinto lugar.
O tempo passou e Maranhão voltou para casa. Virou Chico Maranhão e tratou de fazer valer seu amor por sua terra. Fez-se um estudioso cultural e aprofundou seu olhar afetuoso sobre o povo ludovicense.
Compositor de grande sensibilidade, Chico Maranhão lança agora o álbum duplo Contradições (Kuarup), com 22 músicas autorais e inéditas.
Em “Os Telhados de São Luís”, ele retrata a sua cidade natal. Acompanhado apenas por piano (Carlos Parná) e violão de sete cordas (Luiz Júnior, ele que escreveu os arranjos, dirigiu e produziu o álbum), CM declama os versos.
Após louvar os “telhados”, chega a vez de “Sobrados e Trapiches”. Com bela melodia, tendo um tambor a acrescentar suingue à levada, CM canta como um arquiteto musical: “(…) Do alto de suas tamancas (mancas)/ Se expõe com cortesia/ Azulejos na estampa/ Mirantes de grande herança/ Ares de soberania (…)”.
Com um desenho do sete cordas, tem início “Sobrado”. O acordeom (Rui Mário) chega junto, enquanto a flauta (Sávio Araújo) desenha o tributo à arquitetura de São Luís do Maranhão.
“Roça Brasil” (CM e Chico Teixeira), uma das duas músicas de Chico com parceiro, é uma linda canção sertaneja. Com a mesma formação do arranjo anterior, a sensibilidade impera.
Chico Maranhão mostra suas músicas com a emoção de um trovador que sabe a força que tem. Louvando com carinho a cultura maranhense, (re)avalia a sua própria condição de autor que traz no matulão o linguajar do seu povo. Todo o sentimento, todo o vigor que ele tem à flor da pele voam ao vento são-luisense.
Contudo, por não ser propriamente um cantor, sua afinação tropeça – talvez pelo entusiasmo, pela eloquência que vem de seu pertencimento à terra que canta. Porém, mesmo quando desacertada, sua voz é movida pelo ardor de um homem alinhado à música que concebe com a garra de um poeta criador.
Chico se fortalece na identificação que tem com o povo da terra que adotou como sobrenome – Maranhão! Povo que ele tanto ama e reconhece as dessemelhanças.
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