Ela entra no táxi e já tenta ver se há possibilidade de diálogo. Se sim, mostra um áudio com as falas de Bolsonaro. É usando as próprias declarações do candidato da extrema-direita que busca debater e virar o voto. Depois, vai para a internet e dispara mensagens curtas, afiadas, questionadoras. Apoia manifestos pela democracia. Sempre que possível, participa de manifestações.
Essa tem sido a rotina de Alice Ruiz, 72, uma das maiores poetas brasileiras.
“Eu estou lutando. Eu acho que eu sujaria a minha história se eu não fizesse nada agora. É resistência até o fim. Se a gente não conseguir nada, os nossos filhos, os nossos netos vão olhar e dizer: ‘Mas eles lutaram, eles não foram coniventes’. Porque ficar olhando a paisagem quando isso está acontecendo é ser conivente. Não dá para cruzar os braços agora e depois chorar pelo filho que está sendo enterrado porque é gay, porque pegou um bronze e já leva um tiro. Todas as minorias estão ameaçadas. Eu não estou dizendo, ele disse”, diz ela em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima).
Na sua campanha diária, ela defende o voto em Fernando Haddad, a favor da democracia e contra o fascismo. “É importante a gente esquecer algumas diferenças que não são tão fundamentais e nos unirmos. Porque o que se avizinha é assustador. E, se a gente não fizer isso, a gente está sendo conivente com o Bolsonaro. Até o último minuto a gente pode lutar. Vira um voto e vê o bem que vai te fazer! É o Brasil que está em jogo! E as nossas vidas também!”. E segue:
“Eu tenho orgulho do lado em que estou, quanta gente linda, maravilhosa. É o Papa, o New York Times, a ONU, o Roger Waters, o Esquivel, o Mujica, o Chico, o Caetano, o Gil. Só gente bacana. Todo mundo que pensa está fechando junto. Ôooo lado bonito, forte, humano. É isso. Eu estou do lado humano. Como é que pode isso ser uma qualidade? Kafka perde”.
Mais: “O voto é em defesa da humanidade. Você, como ser humano, é a favor ou contra a humanidade? Se você é, ou seja, se você não é contra você mesmo, você vota no Haddad, no 13, na democracia, numa proposta para a coletividade. O outro representa simplesmente o oposto disso. A perda de todos os nossos direitos conquistados, a entrega do país para forças externas, armar a população, disseminar o ódio, alimentar o ódio contra o teu irmão”.
BOLSONARO É PONTA DO ICEBERG
Alice fala do bom-senso que muitas pessoas adversárias do PT estão tendo agora ao declarar o voto publicamente em Haddad. “Estão se conscientizando do absurdo que nos pode acontecer. E não se se sabermos o que possa acontecer. Porque eu não sei até que ponto é ele. Ele não é um monstro sozinho. Ele está representando uma monstruosidade muito maior”.
Pergunta a razão da ação de marqueteiro norte-americano na campanha de Bolsonaro. E responde: “É porque há interesses dos EUA no nosso pré-sal, no nióbio, nos aquíferos, na Amazônia. É para poder atacar a Venezuela aí do ladinho, roubar todo o petróleo da Venezuela, além do nosso pré-sal. Não é suficiente o que venderam a preço de banana para eles, que foi o que o Temer fez. O Bolsonaro representa de uma forma muito piorada o que o Temer está fazendo. É a destruição do Brasil. Manipulam as pessoas para votar nele e contra o PT. E eles estão sendo manipulados por fora –por dinheiro, por ilusão de poder. Nosso inimigo é muito maior, ele [Bolsonaro] é apenas a ponta do iceberg”.
Para Alice, o que está ocorrendo é “um caos, principalmente de informação”. E é preciso “acordar as pessoas”.
“Temos que continuar criando arte, que não tem só a função de alertar, mas tem a função de fazer questionar, de fazer com que não sejamos massa de manobra. A cultura é subversiva quando ela convida as pessoas a raciocinarem, a pensarem, a questionarem, tirando as pessoas do lugar de ovelha, da submissão e as fazendo pensar. Pensar por conta própria não interessa aos sistemas fascistas”.
E conclama: “Por todos os deuses e orixás, votem no Haddad, na democracia!”.
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