O candidato Jair Bolsonaro é “um cara fraco”, na opinião da economista Leda Paulani, professora da Universidade de São Paulo. “Quem é que vai mandar?”, pergunta ela, sobre um eventual governo do PSL, e ela mesma responde: “São as forças que estão por trás, que estão dando apoio a ele. Ele não é um cara que tem luz própria, não tem condições de comandar uma Nação. Vai ser marionete dos interesses do grande capital e, principalmente, do capital norte-americano e do próprio mercado, dos grandes interesses.”
Em entrevista ao TUTAMÉIA (veja a íntegra no vídeo acima), Paulani comentou as propostas econômicas e afirmou que Bolsonaro vai trazer muita instabilidade, “e o mercado odeia instabilidade”.
Lembrou que ícones do “establishment” econômico também compartilham dessa opinião. A agência Standard & Poors, por exemplo, já emitiu avaliação anotando que, com Bolsonaro, aumenta o chamado risco Brasil. A revista “Economist”, espécie de bíblia dos liberais, publicou reportagem de capa dizem que Bolsonaro é uma “ameaça” para o Brasil.
Não por acaso, o guru econômico do candidato, Paulo Guedes, teve atuação no Chile durante o governo Pinochet, quando essa filosofia neoliberal foi implantada no país sob o tacão militar.
“O governo Pinochet foi uma tragédia em todos os sentidos. Ele começa em 1973 e coloca toda essa ideologia liberal. O Paulo Guedes estava lá nessa turma, fazia parte dos Chicago Boys. Ele tem essa visão alucinada, eu diria, liberal alucinada de economia”, diz Paulani.
E continua: “Se esse programa for implantado, o país vai regredir, como o Chile regrediu. O índice de Gini, que mede a desigualdade de renda, no Chile era dos mais baixos do mundo quando teve o golpe. Era perto de 0,3 –era 0,27 ou 0,28, o que é bom, pois quanto mais baixo, menor a desigualdade. Quando Pinochet sai, já está em 0,43.”
Voltando à disputa no Brasil: “Os programas são muito diferentes, seja do ponto de vista tributário, seja do ponto de vista do papel dos investimentos públicos, seja do ponto de vista da própria organização industrial, do sistema bancário. Em qualquer dessas questões que você pegar são programas praticamente antípodas, programas que são o inverso um do outro”.
As consequências para a economia e para as pessoas já são conhecidas, diz a professora, pois “esse é o caminho que tem sido feito aqui no Brasil desde o golpe de 2016, que derrubou a presidente Dilma”.
“Esse programa ultraliberal já está em andamento, eu diria, desde o golpe. Todas as medidas que foram adotadas, todas mudanças aprovadas foram todas nesse sentido, de reduzir a soberania, de retirar direitos do trabalhador, de aumentar o espaço do mercado, de aumentar o espaço do grande capital, aumentar a facilidade de eles se mexerem”.
Em contraposição a ele, “Fernando Haddad é um democrata radical. Ele vai ser o candidato da frente democrática. Tens bons princípios, é um cara muito preocupado com a desigualdade no país, acha que o país só vai ser civilizado quando a gente reduzir a desigualdade no país. Tem todo o preparo do mundo, é uma pessoa honestíssima.”
Leda Paulani fala isso não por ouvir de terceiros: conhece Haddad há trinta anos, desde quando ela começou seu doutorado na Faculdade de Economia da USP, e Haddad iniciava o seu mestrado.
Trabalharam juntos na prefeitura de São Paulo, na administração de Marta Suplicy e no governo do próprio Haddad, quando Paulani foi secretária de Planejamento.
Ao TUTAMÉIA, a professora de economia contou várias histórias desses períodos. Como surgiu a ideia dos CEUs (Centro Educacionais Integrados), por exemplo, ou como Haddad foi apresentado ao então ministro Guido Mantega, o que lhe abriu as portas para o governo Lula (tudo isso, como muito colorido e animada descrição, aparece no vídeo da entrevista.
É por isso que ela diz que, apesar dos números e da diferença de votos apresentada no primeiro turno, “com o Fernando a gente tem esperança. É difícil, muita batalha, vai ter um jogo sujíssimo contra nós, mas, pelo fato de ser ele, e não outra pessoa qualquer, é uma pessoa com luz própria, dá para nós alguma esperança”.
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