Nesta segunda-feira, 6.8, completa-se uma semana da greve de fome realizada por seis militantes de movimentos populares para denunciar a parcialidade do Judiciário brasileiro no processo contra o presidente Lula. Seu exemplo de resistência e luta animou, nesta segunda, a mais um ativista: Leonardo Armando, do Levante Popular da Juventude, se somou hoje ao grupo.
Ao longo da semana, Zonália Santos, Jaime Amorim e Vilmar Pacífico (do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST), Rafaela Alves e Frei Sérgio Görgen (do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA) e Luiz Gonzaga, o Gegê (da Central dos Movimentos Populares – CMP) receberam apenas água e soro.
“A greve de fome que a gente está realizando aqui em Brasília é contra a fome. É para que outros não passem fome”, anuncia Frei Sérgio. Para eles, o projeto instalado com o golpe de 2016 impacta nas camadas mais pobres, com aumento da fome e violência, perda de direitos no que toca saúde e educação e total desprezo pela soberania nacional.
Para reverter isso, eles apontam que o povo já escolheu seu caminho: a libertação e a condução de Lula à Presidência, como homem-símbolo de um projeto de combate à pobreza e à fome.
“Por isso, essa greve de fome também é pela liberdade de Lula e seu direito de ser candidato. Ele está lá condenado e trancafiado em Curitiba porque representa a ideia de que não se pode sustentar os privilégios da elite às custas da fome do povo”, explica Görgen.
Em manifesto protocolado no Superior Tribunal Federal (STF) no primeiro dia de greve (31/07), os grevistas denunciam a volta da fome, o aumento da violência, particularmente contra jovens, mulheres, negros e LGBT, a situação dos doentes com os ataques à saúde, a falta de perspectiva da juventude com os ataques à educação pública, o aumentos dos preços (carestia) dos alimentos, combustíveis e gás e a perda da soberania nacional.
O apelo é dirigido ao STF em conjunto, mas em particular aos ministros Luis Edson Fachin, Cármem Lúcia, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso, Luiz Fux e Alexandre de Moraes, para que decidam em favor da presunção de inocência garantida na Constituição até o final do trânsito em julgado, o que daria a Lula a condição de liberdade e de candidato do povo nas eleições presidenciais.
Os manifestantes afirmam que a greve de fome foi uma opção livre e consciente para evitar que a população brasileira sofra dessa mazela social por imposição. “A fome representa aqui o desprezo pelo ser humano, como se os pobres não precisassem viver. Isso é muito forte e doloroso!”, conclui Zonália Santos.
Hoje também foi distribuída carta escrita pelo ativista do MST e grevista de fome Jaime de Amorim, figura histórica no movimento dos trabalhadores rurais sem terra. No documento, ele traça um quadro da situação do Nordeste, das necessidades e das lutas do povo.
Fala das conquistas obtidas durante os governos de Lula e Dilma, do muito que ainda há por fazer e das iniciativas do golpismo no sentido de reduzir os direitos dos nordestinos.
E diz: “O povo luta pela Liberdade de Lula e sua volta no comando do país para não deixar o pouco que foi construído nos 14 anos de governo serem desconstruídos”.
A seguir, a íntegra da carta de Jaime de Amorim (o título é meu; ele havia escrito simplesmente “6º dia da greve de fome”).
A DIGNIDADE DO CAMPONÊS
Hoje estamos recebendo a visita da Caravana do Semiárido contra a Fome, Que saiu de Caetés em Pernambuco, passou pela Bahia , Minas Gerais, São Paulo até Curitiba, levando a Mensagem pra Lula que o Nordeste não abre mão de Lula Presidente e agradecer pelas politicas adotadas que permitiram ao Nordeste e ao povo Nordestino ser valorizado, melhorando a vida do povo e ter permitido recuperar a dignidade de um povo e que com tantos sofrimentos e resistência pudesse olhar para o futuro e sonhar.
Foram seis anos de seca, com muitas angústias e necessidades, perdas quase totais do rebanho de caprinos, ovinos e bovinos, seis anos sem colheita de grãos, principalmente do milho, do feijão e da mandioca que fazem parte da cultura regional. Mesmo assim nenhuma família teve que migrar por falta de água e alimento.
O Nordeste sempre foi descriminado em todas as políticas, desenvolvimento industrial sempre foi para o Centro Sul, infraestrutura, portos, aeroportos, estradas para o Centro sul. Prioritariamente, Ciência e tecnologia, 90% dos recursos das pesquisas estavam destinados as Universidades e centros de pesquisas do Sudeste, até para os camponeses as políticas era diferenciadas, antes de Lula quase 70% do Pronaf eram contratados no sul e sudeste e o nordeste que tem 55% dos camponeses do Brasil, não contratava PRONAF, a não ser uma porcentagem muito pequena por falta de ATER e compromissos dos bancos Públicos que preferiam atender empresas agrícolas, usinas e fazendeiros do que contratar PRONAF, segundo eles davam muito trabalho e pouco resultado.
Esta situação passou a iniciar um processo de reversão, não se trata de tirar recursos de outras regiões e diminuir sua capacidade de investimento, mas dar prioridades às regiões equivalente às suas necessidades e potencialidades e distribuição justas dos impostos arrecadados. Com Lula e Dilma, o Nordeste passou a ser valorizado.
Foram aeroportos modernizados, portos ampliados e modernizados a exemplo do Pecyem no Ceará, Itaqui e Suape em Pernambuco. Todos os aeroportos das capitais reconstruídos reformados e modernizados, BR 101 de Sergipe ao Rio Grande do Norte, duplicada, construção da transnordestina, da transposição. Valorização de vários polos industriais da moda no Ceará, da tecelagem e jeans no Agreste de Pernambuco e tantas outras, ampliação das Universidades federais, construção e criação de novas universidades, mesmo que ainda desiguais mas as universidades e centros de pesquisas e tecnologia passaram a ser valorizados no Nordeste. Construção e modernização de hospitais e Indústrias importantes e estratégicas como a Refinaria Abreu e lima e a Hemobras poderíamos citar tantas outras.
É claro que muitos desses empreendimento foram para favorecer a capacidade de ampliação de investimentos do capital que viu na região uma possibilidade de exploração da força de trabalho. Mas do ponto de vista do desenvolvimento, da valorização regional e de melhoria da qualidade de vida do povo, foram importantes para região. Houve período em que na região se atingiu o pleno emprego, a construção civil contribuiu significativamente para criar oportunidades de trabalho para toda a população.
Hoje o desemprego é massivo. As obras pararam, as indústria faliram, os portos diminuíram os serviços, diminuído a movimentação, o Programa Minha casa minha vida está parado, os polos industriais desvalorizados pela política de importação principalmente de roupas e tecidos da China. Com isso volta a prosperar a desesperança e o medo de um furo com a volta da fome, desemprego, miséria e a violência. Por isso e muito mais, com a valorização da cultura nordestina, da identidade regional, o povo luta pela Liberdade de Lula e sua volta no comando do país para não deixar o pouco que foi construído nos 14 anos de governo serem desconstruídos.
O Nordeste já gerou muita riqueza e nobreza para o Brasil e a burguesia colonizadora, escravocrata e novos colonizadores. Riqueza à custa da destruição dos povos originais, da sua riquezas naturais, ( já não existe mais mata atlântica, apenas 16% e estão destruindo a serviço do capital, o Cerrado e a caatinga), à custa de trabalho escravo e escravizado, ou como preferem os mais modernos “análogo ao trabalho escravo”. O Nordeste produziu grande parte da riqueza desse país e dos Colonizadores Europeus portugueses, que sua nobreza viveram séculos na ostentação, ostentando com a explorando nossa riqueza e nosso povo, dos colonizadores holandeses, dos ingleses e do império Norte Americano com exploração e produção do Pau Brasil, Ouro e Minérios, cana de açúcar, cacau, algodão, carne entre tantas outras riquezas exploradas e expolidas.
A Agricultura camponesa do Semiárido, que foi o tema da Caravana é umas das regiões mais prejudicada com o golpe . Foi no borná, da caravana a justificativa da liberdade de Lula, para a população de uma região eminentemente agrícola e que, no último século, serviu basicamente como reserva de mão de obra para o modelo de industrialização brasileira. Milhares de Brasileiros migram em massa, sua grande maioria para o sudeste para fugir da fome e da seca e se submeter exploração ao trabalho exaustivo nas indústria, como força de trabalho barata a serviço da industrialização brasileira, que ficou no Nordeste tiveram que se submeter ao trabalho nas frentes de emergência construindo açudes e barragens á picareta e carro de mão , em terras de fazendeiros, pagos com recursos públicos. Para atingir a estratégia da migração o povo do Nordeste passou um longo período de desconstrução e desqualificação das raízes e identidades regionais.
Os governos de Lula foram responsáveis por programas e politicas publicas que valorizaram o camponês e camponesa do Semiárido, melhorando a qualidade de vida e condições de trabalho como: Programa Luz pra Todos, Programa de Cisternas e tecnologias de armazenamento de Água, Bolsa Família, qualificação e acesso ao PRONAF, Água Pra todos. Programa Água Doce, acesso a aposentadoria, desburocratizando e melhorando o salário, habitação Rural, Programa Terra Forte, Mais Médicos, farmácia popular, incentivo à produção orgânica e agroecológica, Programa de Comercialização publica: PAA, PNAE e PAA Caprino, e o mais importante no processo estruturador, o Programa de equipamento para as prefeituras atender a zona Rural, Carro Pipa, Patrola, Carregadeira mecânica, caminhão e trator que tinha como objetivo atender a zona rural, com manutenção e abertura de estradas e rodagem, escavar açudes para armazenar água e criação de peixes em cativeiro, entre outras políticas.
Pela primeira vez na história o camponês brasileiro e nordestino em especial pode pensar sua reprodução como camponês sem preconceito e com dignidade, pode pensar o campo com: saúde, estradas, energia elétrica e luz, escola, esporte e espaços de cultura.
É certo que faltou muito e muito deixou de ser feito, principalmente no tema da Reforma Agrária. Na Palavra de Dom Francisco “O problema do Nordeste não a SECA, é a CERCA” Ou Dom Pedro Casaldáliga “ Malditas Todas as Cercas”, ou Paulo Freire “Ao romper as cercas do latifúndio aprendemos que podemos que ROMPER todas as CERCAS, da ignorância, da Cultura…”, a principal tarefa de Lula para o Nordeste é resolver o problema histórico da concentração da terra e o poder do latifúndio e das oligarquias regionais que impedem o povo de exercer livremente a democracia e terra para trabalhar.
Portanto a resistência do povo do Nordeste, com marchas, caravanas, rezas, jejum, greve de fome, pela Liberdade de Lula e por Lula livre. É, principalmente porque não querem ver uma região retroceder a ter que viver de Frentes de emergência e cestas básicas.
Brasília, 05 de Agosto de 2018
Em Greve de Fome
Jaime de Amorim
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