O impeachment da presidenta Dilma foi um processo de usurpação do poder, seguido por um golpe parlamentar. É a avaliação que faz o professor de história econômica da FGV Luiz Felipe de Alencastro em entrevista ao TUTAMÉIA.

A usurpação se dá pelo uso de uma legislação caduca para considerar crime prática corrente na administração pública. E o golpe se completa quando o vice-presidente, levado ao poder, passa a implementar programa diametralmente oposto ao que havia sido aprovado nas urnas quando da vitória da chapa liderada pelo Partido dos Trabalhadores.

“Ninguém votou para o Temer”, disse Alencastro, autor de “Trato dos Viventes”, um dos textos básicos sobre a formação do Brasil. O voto foi na candidata à presidência, no seu programa, afirmou o escritor, depois de fazer um breve balanço sobre a história recente do processo eleitoral no Brasil, demonstrando o vínculo de subordinação do vice na chapa.

Com o golpe, o governo usurpador passou a implementar programa que havia sido derrotado nas quatro eleições anteriores. E que, na avaliação de Alencastro, seguirá perdendo se forem realizadas eleições livres: “Lula é imbatível”, afirma ele, depois de comparar os legados do getulismo e do lulismo (vídeo abaixo).

Destacou diversas das políticas sociais implementadas no período lulista, em especial a política de cotas raciais na universidade. “A democracia não funciona com exclusão social”, apontou.

E a democracia é o valor fundamental para a sociedade, no entender do professor. Por isso mesmo, avalia que eventuais candidaturas de extrema direita não conseguirão conquistar hegemonia na sociedade: “Bolsonaro é um tipo de candidato que explode em pleno voo”.

Professor emérito da Sorbonne, Alencastro também analisou a situação política do mundo, comentando os conflitos na Europa envolvendo a situação dos imigrantes e avaliando as consequências do Brexit –a decisão da Grã- Bretanha de deixar a União Europeia.

E apontou que o Brasil, cada vez mais, precisa se voltar para os países africanos –e não apenas por causa de nossa história comum. As afinidades são cada vez maiores, e o idioma se destaca: “Em menos de trinta anos, haverá mais gente falando português na África do que fora da África”, diz.

Por isso, Alencastro prevê: “Temos um novo encontro com a África neste século 21”.