“Apesar de Você”, “Roda Viva”, “Cálice” são sucessos que o MPB4 canta há cinco décadas. Nasceram em plena ditadura militar e se transformaram na trilha sonora da resistência. Agora, quando outro golpe se abateu sobre o país, elas passaram a ser entoadas com renovada emoção pelo mesmo grupo vocal que percorre o país há cinquenta anos.
“É incrível como as músicas dos anos 1960 ficaram atuais. Elas voltaram a ter uma força impressionante”, diz Paulo Malaguti Pauleira, 58, o caçula dos integrantes do quarteto.
Ele classifica como “alarmante” o golpe nas instituições iniciado com a derrubada da presidente Dilma Rousseff, em 2016. Afirma que “o ajuntamento político” que tomou o poder é ancestral e representa a injustiça social.
Pauleira fala ao lado de Aquiles, 69, Miltinho, 74, e Dalmo, 66, em entrevista exclusiva a TUTAMÉIA numa brecha durante os ensaios do show em comemoração aos 50 anos do grupo em janeiro de 2018.
Reviver o passado do início de carreira é também o que sente Aquiles, que atua no MPB4 desde o seu nascimento. Para ele, o conjunto faz o combate à situação atual “da forma musical e política possível”, recuperando as palavras de ordem dos anos 1960 _ainda necessárias hoje em dia.
Em relação àquela época e mesmo em comparação com o momento da eleição de Lula à presidência, Aquiles avalia que o meio artístico está hoje mais dividido e perplexo. No passado havia um adversário comum mais visível; hoje “os nervos estão à flor da pele”.
A radicalização crescente no país é a preocupação de Miltinho, que acompanha com apreensão, nas redes sociais, a transformação de amigos em inimigos agressivos. Na sua visão, a perda da espiritualidade ajuda a explicar o comportamento raivoso, “de gado” que se espraia no país.
Já Dalmo comenta as mudanças radicais no mercado cultural do país, a ascensão do estilo sertanejo e especialmente o avanço da concentração e da monopolização também nessa área. “Falta democracia nos meios de cultura”, afirma.
No show que TUTAMÉIA acompanhou, em São Paulo, o púbico se emocionou com as apresentações fortes de “Roda Viva” e “Cálice”. Ruy Faria, morto no início deste ano, e Magro, falecido em 2012, receberam homenagens. Ambos, com Aquiles e Miltinho, faziam parte do grupo original.
Na nossa conversa antes da apresentação, o MPB4 trata do seu repertório nos shows, que reúne sucessos de décadas passadas e canções de novos parceiros. Os espetáculos estão sempre lotados pelo país. “Já são três gerações” de fãs que cantam os seus sucessos, lembram. Assim, segundo eles, o público do grupo se renova dentro de casa: avós, pais e filhos entram na fila de autógrafos, contam.
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