“Onde foi que vocês enterraram nosso mortos?”

Mais que uma pergunta, a frase lembra um grito de desafio, uma acusação, a perseguição da história, o compromisso com a verdade.

Trata-se também do título de um livro do jornalista Aluizio Palmar que está sendo relançado, revisto e ampliado, pela editora Alameda.

Histórico militante da luta contra a ditadura militar, militante do chamado “primeiro MR8” e da VPR, preso político libertado no grupo que foi trocado pelo embaixador da suíça do Brasil, em 1970, Palmar apresenta no livro o resultado de mais de vinte anos de investigações sobre o paradeiro de antigos militantes da resistência armada à ditadura.

Em entrevista ao TUTAMÉIA, o jornalista contou que ele mesmo poderia ter sido um dos integrantes do grupo que acabou sequestrado, preso, torturado e morto na travessia de volta ao Brasil. Chegou a ser convidado por um antigo companheiro –que, aponta no livro, acabou se revelando um traidor, um “cachorro” a serviço da ditadura—para participar da investida.

“Em 1974, fui a Buenos Aires fazer meu derradeiro encontro com o contato do pessoal que tinha trabalho [de resistência democrática] no estado do Paraná.

Enquanto fazia hora passeando por Buenos Aires, avistei ao longe o Onofre Pinto, ex-comandante da VPR, e Alberi Vieira dos Santos, que havia participado da Operação Três Passos, em 1965. Procurei me afastar, mas eles me viram. Alberi me abordou, disse estar sabendo que eu tinha um “trabalho” na fronteira e propôs que eu juntasse minha estrutura à estrutura dele. Eu ouvi a lengalenga do Alberi, topei juntar nossos trabalhos e marquei um encontro mais tarde.”

Nunca apareceu. Juntou suas coisas e deu um jeito de sumir da Argentina e voltar para seu refúgio no Paraná. Não que ele desconfiasse de Alberi; simplesmente não acreditava na retomada da resistência armada que, segundo a história que lhe foi contada, era o objetivo do grupo.

“Naquela altura do campeonato –1974–, a gente achava que a ditadura militar estava começando a se enfraquecer e qualquer ação armada iria oxigenar a linha dura e o aparelho repressivo.”

Além disso, revelou ao TUTAMÉIA, Aluizio tinha “medo, muito medo”.

Foi o que o salvou.Assim, sem Aluizio Palmar, Joel José de Carvalho, Daniel de Carvalho, José Lavechia, Vítor Carlos Ramos e Ernesto Ruggia foram atraídos para uma emboscada no Parque Nacional de Itaipu. Era a Operação Juriti, organizada pela repressão para atrair exilados políticos e eliminá-los.

Algo que não tinha muito sentido, na opinião de Aluizio. Por que fazer todo esse esforço de montagem de uma farsa, gasto em pessoal e gastos materiais, para acabar com gente que estava fora, neutralizada, em um momento que a guerrilha já tinha sido exterminada?

Para o jornalista e escritor, tratava-se de uma estratégia de sobrevivência. Os grupos mais sanguinários do regime militar, que já vivia processo de abertura, talvez quisessem criar casos para mostrar que o “perigo da guerrilha” ainda estava vivo –é a hipótese proposta por Palmar.

No livro, ele também relata suas investigações para descobrir onde os corpos foram enterrados. Para nós, informou: “Realizamos quatro expedições de busca. Uma em um local apontado num croqui desenhado por um ex-tenente do Exército, e outras três expedições em local apontado pela testemunha que eu localizei durante as pesquisas nos arquivos da ditadura. Estamos perto. É questão de tempo e muita paciência.”

Saiba mais sobre a Operação Juriti assistindo a este vídeo: