Por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Ê, Minas…,
de JK e Aleijadinho, do Rio Doce e da Mata; ê, Minas do Sul e do Jequitinhonha, do Triângulo e do Jequitibá; ê, Minas de Fernando Brant e Wagner Tiso, de Drummond e Murilo Mendes; ê, Minas de Mariana e Brumadinho, de Ouro Preto e de Congonhas. Ah, Minas, tua lua é mais azul!
Ê, Minas Gerais de Santos Dumont, terra onde nasceu Omar Fontes e a terra para onde ele foi criança e até hoje vive lá, Itajubá. Em Minas e nas Gerais ele é produtor musical, pianista, arranjador, professor e regente de coro e de orquestra.
Pois bem, faz algum tempo que Omar, em parceria com o poeta Gildes Bezerra, lançou Olhai os Líricos dos Cantos (independente), álbum cujo título, uma grande sacada, nos remete a Olhai os lírios do campo, romance de Érico Veríssimo
Como se verá ao longo da audição, a inventividade do título se espraia pelo conteúdo dos versos e das músicas, todas dos parceiros. As harmonias e as linhas melódicas subvertem todo e qualquer critério estabelecido por dogmas da composição.
Por sua total capacidade criadora, torna-se quase inútil imaginar aonde vão as melodias. Ainda mais por vê-las envoltas em versos e harmonias que prelecionam o sul e o norte no mapa da inspiração.
Os compositores dividiram o repertório entre si e com alguns ótimos intérpretes. Produtor e arranjador do álbum, Omar canta duas músicas; Gildes, uma; Tutuca, duas; e Wolf Borges, Ravi Kefi, Silvana Santos, Elder Costa, João Lúcio e Jucilene Buosi, uma cada um. Tem mais o coro que fecha o CD: Carlos Lara, Cristiane Venâncio, Caio Emídio e Luciana Noronha. Para acompanhá-los, violão, sax soprano, flauta, acordeom, quarteto de cordas e uma cozinha azeitada.
A tampa abre com “Olhai os Líricos dos Cantos” (música que dá título ao disco). Quem canta é Tutuca. Sua voz se encaixa à perfeição na música, que, por vez, remete a Guinga (rejeito comparações, mas esta… vixe, tem jeito não). A melodia permite ao bom cantador tratar a música como se fosse simples de cantar. Na sequência, sente-se cada intérprete dando seu jeito de melhor demonstrar o repertório irrepreensível.
(Há tempos não ouço uma primeira faixa de um disco com tanto pujança e graça. A partir dela, senti que ouviria um disco diferençado).
Outra coisa. Eu já disse algumas vezes, contudo agora reitero: mixagem é questão de gosto! E o meu gosto considera que, desde a primeira faixa, o som das cordas está praticamente no mesmo volume da voz, o que dificulta o entendimento das melodias e dos versos.
Bem, isto posto, revelo o que experimentei: as músicas mais lindas do CD são as mais lentas. Pelas canções e valsas sente-se que, quanto mais delicadas, mais as músicas de Fontes e Bezerra prevalecem sobre as ritmadas.
Ê, Minas, a quem saúdo por ter parido Omar Fontes e acolhido o paraibano Gildes Bezerra. Ê, Minas, que me deu meu pai e, por isso, sei que nunca me abandonará. Ê, Minas, que com seus belos horizontes, plenos de luz e vida, nunca me faltará. Ê, Minas Gerais… aqui me tens a teus pés.
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