Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
André Morais, paraibano de João Pessoa, após lançar Bruta Flor (2011) e Dilacerado (2015), nos chega com Voragem (álbum autoral e independente), que conta com as participações de Ney Matogrosso e Fabiana Cozza.
E agora vamos à dramaticidade de algumas músicas. Elas têm a poética arando emoções entrelaçadas a melodias e harmonias instigantes, com versos consagrados às dúvidas que ardem em carne-viva na alma de André .
“Voragem” (Valéria Oliveira e André Morais). O piano toca a intro junto com baixo e percussão. André canta como um compositor que sabe o que sente e o que quer dizer com as suas palavras. Sua letra tem ardor e lucidez e a música é compatível com sua entrega ao cantá-la – as notas agudas demonstram a boa afinação do intérprete.
“A Lira Nua” (Valéria Oliveira e AM) inicia com acordes do piano. Logo o violão assume o compromisso de demonstrar a beleza da melodia, no que conta com o apoio do poderio vocal de André: “(…) Aqui estou eu mulher, homem/ Aquilo que não tem nome/ Aquela água a cair da fonte (…)”. Ad libtum, o final se aproxima. Um belo arranjo!
“Cantar e Sangrar”* (Lucina e AM). A intro é densa. Logo os versos vêm cantados por André, até cedê-los a Ney, que os interpreta emocionada e emotivamente, como se sangrasse aos versos – precisamente como André os descreveu: “(…) É da minha natureza/ Cantar e sangrar/ O que me escorre das veias/ Mancha a toalha da mesa (…)”. E é assim que Ney Matogrosso canta, meus Deuses!
“Maré Alta” (Michel Costa e AM). Aqui, André entoa versos à sua mãe. Lindo!
“Brasa” (Socorro Lira e AM). Logo a melodia de Socorro se faz presente na voz de André com versos que, àquela altura, eu já ouvia com o prazer de ver que o poeta é pleno em suas convicções e desditas. O arranjo é feito de intenções que florescem a cada semibreve.
“Leve” (Milton Dornellas e AM). Efeitos sonoros antecipam o canto. O violão conduz a melodia. André canta com a alma escancarada: “(…) Na pele em poro aberto/ Meu coração/ Lascivo e lunário/ Se lança num salto/ Ao doce presságio (…)”.
O samba “Pátria” (Valéria Oliveira e AM) inicia com André cantando com Fabiana Cozza, cujo cantar traz o ardor convicto do que seja a alma cidadã. Ao final, um dedilhar do violão conduz a imagem libertária.
“Ocaso” (Lucina e AM). Com mais essa parceria com Lucina, André fecha a tampa de seu terceiro álbum. Um grande momento de um cantautor de palavras profundas como a alma humana.
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ficha técnica: produção musical: Helinho Medeiros e Pedro Medeiros; direção artística: André Morais; piano acústico e acordeom: Helinho Medeiros; violão, violão de 7 cordas, violão de aço e viola caipira: Pedro Medeiros; baixo acústico: Victor Mesquita; percussões: Cassiano Cobra; arranjos coletivos, sob a liderança de Helinho Medeiros; mixagem: Marcelinho Macedo; masterização: Felipe Tichauer (Red Traxx Studio, Miami, USA).