“Na Justiça, as pessoas não se colocam como servidores. A Justiça deveria ser um local de solução de conflitos. Uma coisa tão essencial, como saneamento básico, como água potável. Na verdade, você não tem isso. As coisas não se resolvem, os conflitos são postergados. Não há um serviço prestado na Justiça. E a justiça criminal, que é a que eu mais conheço, é uma máquina de triturar pessoas. Newton é um personagem absolutamente estranho, construído propositadamente para ser uma pessoa estranha, até com falas que você poderia definir como politicamente incorretas ou inadequadas. Ele acaba entrando nesse emaranhado processual que vai gerando uma máquina de triturar o personagem”.
É o que afirma Luís Francisco Carvalho Filho falando ao TUTAMÉIA sobre seu romance “Newton” (Fósforo). Advogado criminal, escritor e editor, ele presidiu a Comissão de Mortos e Desaparecidos e foi diretor da Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo. Autor de “Nada Mais foi Dito Nem Perguntado (Editora 34, 2001), nesta entrevista ele conta como foi o processo de criação de sua obra mais recente –que, depois de pronta, ficou dormindo na gaveta por algum tempo. Trata da conjuntura do país, do sistema de Justiça, da Lava Jato, da questão dos direitos humanos –e de literatura (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Carvalho Filho comenta os recentes movimentos em defesa da democracia e afirma:
“Tem que barrar o caos. Agora, o cara tem as Forças Armadas com ele. O candidato a vice-presidente é o ex-ministro da Defesa. E o que é mais grave: o Bolsonaro abriu a administração pública para o oficialato, que passa a ganhar mais, acumular vencimentos; isso é difícil de reverter depois. Existe, entre aspas, uma base material para o golpe, que são os interesses próprios”.
Ele segue:
“Hoje não existe um tom favorável a qualquer interrupção do processo institucional. Internacionalmente isso não pega mais. O mais grave aqui no Brasil é que você tem tido a tolerância do Congresso. O presidente da Câmara é um desastre, um personagem terrível. E o presidente do senado é muito fraco. Aí que mora o perigo. Não acredito numa quartelada, mas pode surgir uma situação de caos, que gere a necessidade ou a tolerância, entre aspas, dos poderes da República em que algo seja feito”.
Sobre o futuro, afirma Carvalho Filho:
“As coisas podem melhorar, mas não tenho um otimismo. O mal criado pelo Bolsonaro é um mal muito profundo. Mesmo que ele perca a eleição, mesmo que ele admita o resultado, acho que ele cava um pedaço do Brasil significativo, que vai ter uma tendência golpista, que é o pior Brasil que pode existir e que são 30%. Esse território é muito perigoso, nós vamos ter muito problema daqui para a frente”.
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