“Um dos maiores desafios de um futuro governo Lula é conquistar a participação da juventude, que é ampla, que está querendo que o Lula ganhe, que está superpresente no respeito e no amor ao país. É preciso descobrir qual será o gancho através do qual essa juventude vai se envolver, se engajar na recuperação do país.”

Assim fala a arquiteta Clara Ant, que foi assessora especial do ex-presidente Lula em seus governos e agora lança um livro em que conta um pouco dessa trajetória: “Quatro Décadas com Lula: O Poder de Andar Junto” (Autêntica). Em entrevista ao TUTAMÉIA, ela sobre o trabalho e lembra momentos de realização no governo petista, assim como episódios dramáticos –o acidente com o voo TAM 3054, no aeroporto de Congonhas, em que morreram 199 pessoas.

Também comenta a situação do país, que considera melhor hoje do que quando começou a escrever o livro, no período do golpe contra a então presidenta Dilma:

“A Dilma tinha acabado de ser cassada, logo em seguida vieram os ataques ao Instituto Lula, ao próprio Lula e ao nosso Instituto. A procuradoria de São Paulo questionou a veracidade das palestras e caracterizou que o Lula estava, digamos, fingindo umas palestras para poder criar um duto de propina, o que era para nós uma ofensa enorme. Eu, que fazia a agenda do Instituto Lula, eu que agendava as palestras, eu que sei onde, quando e como elas foram realizadas, e todas elas publicizadas na imprensa internacional, era uma ofensa, mas foi o que aconteceu. Depois veio a Receita Federal, que multou o instituto num valor gigante, muito maior que qualquer coisa que o tamanho do instituto pudesse pagar, e finalmente a prisão do Lula.”

Ela segue: “Essa trajetória pesada criou um estigma contra o Lula, contra o PT, contra todos nós. Todo mundo deve se lembrar que até para um petista, para uma pessoa engajada, como eu, andar na rua já era uma dificuldade porque nós éramos acusados de ladrões, de criminosos…”

Aliás, diz Clara, a própria decisão de escrever o livro foi uma maneira de produzir uma resposta aos ataques sofridos:

“É um livro que eu resolvi escrever alguns anos atrás e que tem um pouco a ver com o que está acontecendo hoje no Brasil porque a minha decisão de escrever o livro foi tomada, basicamente, quando eu percebi que o negacionismo está atingindo também a minha história, a história do movimento sindical, a história do meu partido, que é o PT, e a história dessa grande liderança, que é o Lula, que se consolidou por décadas e décadas, e há uma tentativa de anular essa história.” (Clique no vídeo acima para acompanhar a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV)

Bolsonaro prosseguiu com os ataques, diz Clara Ant, que é militante histórica do movimento sindical, participou da fundação da CUT, foi deputada estadual pelo PT e hoje é conselheira do Instituto Lula:

“Esse cidadão que ocupa hoje o palácio do Planalto, a única lógica que ele tem é a perversidade, é o cinismo, é a destruição do outro. Acredito que tudo de ruim pode vir dele. O que, sim, eu acredito, é que essa amplitude alcançada atualmente por aqueles e aquelas que defendem a democracia, que defendem o país, essa amplitude pode ser um freio, pode ser uma cerca para impedir que ele avance com seus maiores prazeres, que são o golpismo, a perversidade, o desprezo à vida, a destruição do que está construído, a destruição da ciência, da cultura e da arte, enfim, de tudo que o Brasil poderia estar tendo de bom.

É isso que, para ela, permite caracterizar como melhor a situação atual do país:

“Ver a conjuntura hoje é um alívio muito grande, primeiro porque o Lula não tem nenhuma condenação, então é óbvio que foram ataques planejados para dificultar a figura dele, mas também por causa do que está acontecendo agora, com esses documentos que estão saindo, é uma ampliação enorme desse sentimento de inconformismo com a destruição da democracia”.

E conclui:

“Então realmente, o que está acontecendo hoje, essa aglutinação de um leque bastante amplo, que começou a crescer com a dobradinha Lula-Alckmin e agora vem crescendo com esses manifestos e manifestações, nós estamos vivendo um momento de alento, de esperança, que aponta para a possibilidade de uma virada muito boa para o país.”