“As mulheres sofreram mais com a pandemia. Desenvolveram mais estresse, mais ansiedade, há uma questão com a obesidade. A covid longa é mais frequente entre as mulheres. O Brasil foi o lugar que mais teve morte materna por covid no mundo. De um jeito escandaloso. A cada dez gestantes que morreram no mundo com covid, entre 2020 e 2021, oito estavam no Brasil. Só que nós somos 3% da população mundial!”.

A afirmação é da médica Karina Calife ao TUTAMÉIA. Mestre e Doutora pela Faculdade de Medicina da USP e Professora da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, ela integra o comitê executivo da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas.

Nesta entrevista, ela fala da importância das vacinas, da necessidade de preservação de cuidados (como o uso de máscaras em locais fechados), das perspectivas para a evolução da pandemia e dos impactos na população (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

Calife destaca resultados de pesquisa que realiza, apontando o peso que as mulheres sustentam na pandemia. No caso da covid longa, elas são as mais atingidas, especialmente na faixa etária entre 29 e 35 anos.

“A maioria das pessoas que têm covid longa são profissionais da saúde, da educação, da ciência social, que são categorias com mais mulheres. Provavelmente pessoas que trabalharam muito e que não tiveram esse tempo de cuidado e de descanso nas suas próprias residências. São pessoas que adoeceram e ficaram trabalhando enquanto estavam doentes, por conta das questões econômicas que não foram cuidadas no nosso país”, afirma.

A médica observa que 77% dos profissionais da linha de frente da pandemia são mulheres –enfermeiras, auxiliares de enfermagem, agentes comunitários, médicas. É um contexto em que a sociedade patriarcal mostra a cara de forma nítida:

“Essas mulheres, na época mais pesada da pandemia, trabalhavam na linha de frente e se sobrecarregaram com o trabalho doméstico. Nessa pesquisa [que estamos fazendo], os homens não falam do trabalho doméstico, nem do cuidado com as crianças. E as mulheres falam: ‘Estou sobrecarregada também com essa questão’”, afirma.