Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Para minha alegria recebi Vai Por Mim (selo Circus, com apoio do Proac SP), o recém-lançado CD físico de Luiz Tatit (também disponível nas plataformas digitais desde o início deste mês de julho/22).
Para começar, digo-lhes que considero Tatit um gênio – simples assim. Escritor que cria belezas insofismáveis, como se fossem a coisa mais percebível do mundo; compositor de melodias e harmonias tão sagazes quanto definitivas, por vezes nos induzindo a crer que seriam, digamos, canções tolinhas – Pois sim! E seus versos? Muitas vezes ele os declama, como se fossem temas corriqueiros; como se a substância das palavras ajuntadas fosse coisa de gente comum – Não são! São coisas de uma mente que parece não se importar com louvores a elas (como a que as crianças vivem nos apresentando e nos surpreendendo pela espontaneidade), que ante tal desafetação nos fazem pensar: “Caramba! Como eu não pensei nisso antes?” Pois é.
Vai Por Mim, o CD, contém as composições mais recentes de Luiz Tatit, feitas um pouco antes e durante a pandemia. Emoção e nervos à flor da pele, são dez canções que tratam da vida, do tempo que passa, das relações amorosas e da mais que nunca necessidade de cantar. Produzido por Jonas Tatit (ele que também gravou, mixou e masterizou o disco) e Danilo Penteado, o trabalho tem participações especiais de Ná Ozzetti, Zélia Duncan e da vocalista Lenna Bahule.
O álbum traz parcerias de Tatit com Zecarlos Ribeiro, Emerson Leal e Ricardo Breim, e se completa com a batera e a percussão de Sérgio Reze, as guitarras, o cavaquinho e o piano de Jonas Tatit, e os teclados, o contrabaixo e a sanfona de Danilo Penteado.
A genialidade de que lhes falei está à mostra, logo de cara, em “Vai Por Mim” (LT), quando o grito contra o desmatamento vilmente institucionalizado soa inesperado em forma e conteúdo: “Como pode/ Deixe vivo o grão/ Grão é pó/ Pó de terra na imensidão/ Grão com grão/ Forma o chão/ Como pode/ Deixe vivo o chão/ Tem raiz/ Que mantém em pé o país/ Chão com chão/ E a nação (…)”. A sanfona soa com a voz e o violão de Tatit e com o cantar sempre admirável de Ná Ozzetti. Baixo, bateria e agogô seguram a levada.
Em “Esperando o Quê?” (LT), Tatit divide o canto com Zélia Duncan. Zélia abre bonito: “Mar aberto/ Oceano/ Lua cheia/ Transbordando/ E eu aqui/ Esperando o quê?/ Tenho que/ Avisar você/ Chegou a hora/ Vem ver o mundo crescer (…)”. O arranjo cresce com discreto reverber nos vocalizes de Lenna, que por vezes canta em terças com Zélia, em meio a ligeiras viradas da batera.
A audição do repertório traz a ventura de ter comigo um compêndio da genialidade de Luiz Tatit. Simples assim, ou melhor, profundamente assim. Nada em Vai Por Mim é raso – Alegre constatação! O som do novo álbum de Tatit é abundantemente significativo. E sua voz, o que é? Ela é tudo, menos a voz de um cantor de recursos. E seus versos? Nada é desperdício, tudo é síntese. E o conjunto da obra Tatitana? Puro ouro em pó!
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