Por LAURA LUCENA

“A Loucura da Razão Econômica” traz luz sobre questões que movem o mundo contemporâneo, tendo por base a reflexão de Karl Marx (1818-1883). Harvey classifica de “loucura” essa necessidade social infindável de acumulação, de expansão perpétua levada por uma “infinitude incompletável”, avassaladora, mas que não ocorre sem resistência, conflito.

O próprio dinheiro vira uma mercadoria, ou seja, é capaz de reproduzir a si mesmo -na forma de juros. Para tanto, é necessário que o valor circule; caso contrário ele se desvaloriza.

A maior preocupação do capitalista é reunir uma grande quantidade de dinheiro; porém, no instante seguinte ao em que ele consegue esse feito, se esforça para se livrar dele em algum tipo de investimento, gastar em compras, aplicações financeiras.

A velocidade desse movimento é cada vez mais galopante. Qualquer pausa ou redução das trocas pode gerar uma crise, uma desvalorização do capital, do consumo racional. As falhas e panes nessa circulação geram o “antivalor”.

David Harvey – Foto divulgação/Boitempo

 

De acordo com Harvey, a dívida é uma forma crucial de antivalor. Dessa maneira, a relação dívida-crédito é perpetuada e transformada em força motriz do valor em movimento. Na medida em que a circulação cessa, caímos na armadilha da liquidez, temos as crises –como a que ocorreu no sistema financeiro mundial em 2008.

É na geografia das cidades e nos limites do espaço que o movimento do capital se realiza. O papel do Estado e a soberania das nações são revisitados conforme as relações de dívidas entre as nações. É difícil imaginar, mas existem cidades inteiras construídas como investimento, e não para as pessoas morarem: são as cidades fantasmas.

As relações entre Estado e finanças estão imbricadas. Historicamente a primeira estrutura do tipo Banco Central surgiu com a fundação do Banco da Inglaterra, em 1694. Por sua vez, as empresas de capital aberto surgem nos anos 1860.

As guerras entre os países existem de longa data, são fruto dos conflitos geopolíticos e geoeconômicos. Dessa maneira as crises fazem parte do modo de existir da sociedade em que vivemos, uma unidade contraditória. Geralmente elas ocorrem de forma periódica: depressão, uma animação moderada, hiperatividade e então a crise. Ponto de partida de um novo investimento, portanto base material para o próximo ciclo de rotação.

Desse modo, o antivalor, o capital fictício e a circulação de juros se tornam a principal força para a manutenção do movimento de valor. De um lado temos uma acumulação excessiva, de outro uma massa de trabalhadores aguardando um trabalho, uma melhoria de vida.

Por meio das lutas sociais, os movimentos de resistência, como mobilizações recentes no Brasil, Estados Unidos e Turquia, demonstram alguns limites da acumulação do capital em ações que envolvem as relações entre as nações.

O reconhecimento da loucura e da razão na economia transforma as relações sociais capitalistas, baseadas a princípio nas trocas e na valorização das coisas. O livro é uma inspiração para tentarmos compreender um pouco mais sobre o mundo em que vivemos.