por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Como eu já escrevi aqui neste espaço, sinto grande alegria ao ouvir um primeiro disco, seja ele de quem for, que me instiga a sair do conforto de minha cadeira. A sensação de que algo novo vem chegando põe-me os sentidos em alerta.
Meus olhos buscam um não-sei-quê que voa alto. Vai ligeiro, pois sabe que o inesperado pode estar ali pertinho, pronto para ser agasalhado por meus ouvidos e pelas dobraduras do meu sentir.
Tal momento se deu agorinha mesmo, ao ouvir o primeiro álbum da cantora e compositora Manu Saggioro: Clarões (independente). Isso mesmo, Clarões – álbum iluminado que leva o ouvinte a acreditar em novas ideias musicais e é o título do trabalho inaugural de uma carreira nascida para viver. Eis Manu Saggioro! (foto Luciana Franzolin/Divulgação)
Disco de tirar o fôlego, as belezas vêm desde a capa (concepção gráfica de Juliana Coelho e foto de Luciana Franzolin), que traz o perfil de Manu e seu queixo apontado à frente, como que nos induzindo a acreditar que melhor será o porvir. O longo cabelo esvoaçado para trás. E seu nome e o título do CD em letras douradas sobre um fundo negro.
Outro acerto é a direção artística estar nas mãos de Ceumar, credenciada pela sua vivência musical para estruturar a concepção do disco. Com Rogério Delayon, ela e Manu traçaram as diretrizes dos arranjos para quatro composições só de Manu e duas em parceria, além de oito de outros compositores.
A empatia veio ao primeiro acorde de “Asa da Canção” (Manu Saggioro), que abre o CD. Nesse arranjo, bem como em nove outros, Manu está ao violão. A abrideira tem ainda Adriana Holtz no violoncelo, Emerson de Biaggi na viola e Luiz Amato no arranjo para violinos. Formação enxuta que dá pinta do estilo musical dos arranjos.
“Clarões” (Tetê Espíndola e Tavinho Limma), cantada com voz límpida por Manu, me fez lembrar que algo singular nasceu e me acalentou. O arranjo tem o violão de Manu, a percussão de Antonio Loureiro, o baixo acústico de Daniel Coelho e o acordeom de Guilherme Ribeiro.
Cantando delicadamente as canções, Manu revela que sua aparente fragilidade é, no fundo e no raso, uma demonstração de autoconfiança. Ainda que inconscientemente, a segurança pareça emanar de um amor incondicional por seus fazeres e cantares. Eis Manu Saggioro!
Um samples de tambura (instrumento de origem indiana com cordas dedilhadas num braço sem trastes) protagoniza “Quem Ensinou” (Osvaldo Borges). Cantada por Manu, ora ela dobra a própria voz, ora a soma à voz de Ceumar. A percussão de Ari Colares se junta ao arranjo que rela na tradição, mas abrange a modernidade.
Em “Moda de Viagem” (Manu e Ceumar), novamente a recordação está presente no violão de Manu, que canta com Ceumar, e na viola caipira de Levi Ramiro.
Clarões é um trabalho que engrandece a novata Manu Saggioro: ela cria no tempo dos pássaros, cujas asas repercutem músicas reveladoras da sua paixão pela criação. E é com ela que Manu alça voo e amplifica a contemporaneidade de ser uma mulher dos tempos de sempre.
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