As fake news, notícias falsas ou simplesmente mentiras divulgadas como se fossem verdade, como se fossem informações jornalísticas, em geral transmitidas por redes sociais são “um conceito que está sendo manipulado pela direita para constranger e limitar a esquerda” no Brasil.
É o que afirma o jornalista Paulo Henrique Amorim, que atua na TV Record, comanda seu site Conversa Afiada e tem uma trajetória de décadas de experiência com passagens pelos mais importantes veículos da imprensa brasileira.
Em entrevista ao TUTAMÉIA (confira o vídeo no alto desta página), ele destacou o caráter político das fake News, seu uso para manipulação da opinião pública. Lembrou que o conjunto de falsas notícias “mais importante e poderoso” foi aquele denunciado pela repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo, sobre ação de empresários em apoio à candidatura de Jair Bolsonaro.
Ele se referia à reportagem que tinha por título “Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp”, com o subtítulo “Com contratos de R$ 12 milhões, prática viola a lei por ser doação não declarada”.
O texto, publicado no dia 18 de outubro do ano passado, começa assim:
“Empresas estão comprando pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT no WhatsApp e preparam uma grande operação na semana anterior ao segundo turno. A prática é ilegal, pois se trata de doação de campanha por empresas, vedada pela legislação eleitoral, e não declarada. A Folha apurou que cada contrato chega a R$ 12 milhões e, entre as empresas compradoras, está a Havan. Os contratos são para disparos de centenas de milhões de mensagens. As empresas apoiando o candidato Jair Bolsonaro (PSL) compram um serviço chamado “disparo em massa”, usando a base de usuários do próprio candidato ou bases vendidas por agências de estratégia digital. Isso também é ilegal, pois a legislação eleitoral proíbe compra de base de terceiros, só permitindo o uso das listas de apoiadores do próprio candidato (números cedidos de forma voluntária).”
Por causa da reportagem, Mello foi agraciada com vários prêmios de imprensa e citações até na revista “Time”, norte-americana. Também foi perseguida, conforme a Folha registrou:
“Nos cinco dias seguintes à publicação da reportagem, um dos números de WhatsApp mantidos pela Folha recebeu mais de 220 mil mensagens de cerca de 50 mil contas do aplicativo. Campos Mello recebeu ligações telefônicas com ameaça, e o diretor-executivo do Datafolha, mensagens com o mesmo teor.”
Na entrevista ao TUTAMÉIA, Paulo Henrique Amorim apontou que, curiosamente, o caso não integra a lista de fake news investigada no Supremo Tribunal Federal.
“Nosso ilustríssimo ministro Luiz Fux se preocupou com o assunto das fake news, mas interessante que não se preocupou com as fake news para eleger Bolsonaro”, disse Amorim.
O próprio jornalista, por sinal, foi recentemente alvo de campanha de boataria e mentiras que anunciavam sua suposta demissão da TV Record.
“Foi mais um dos 42 mil boatos que tem, no caso me envolvendo, numa tentativa de me enfraquecer”, disse Amorim. E continuou: “Essa boataria resultou de uma entrevista que dei ao Lindbergh Farias e à Vanessa Grazziotin, no site À Esquerda, em que eu disse que considerava o Moro, que prefiro chamar, no meu site Conversa Afiada, de conge… Pois eu disse que achava o conge um analfabeto funcional. Por ter dito isso fui vítima de um ataque de fake news, mas estou trabalhando normalmente”.
Paulo Henrique também avaliou a situação política do país, o papel da imprensa e a condição do mundo da comunicação em tempos bolsonarísticos:
“O que estamos vivendo agora é o produto de uma consolidação de um processo de monopólio ou de controle muito fechado por grupos empresariais, algo que é sem similar no mundo. Não há similar no mundo, um país de 200 milhões de habitantes que tenha uma empresa com a hegemonia que a Rede Globo tem. Em nenhum regime minimamente democrático teria sido possível a Globo acumular tanto poder.”
Lembra que, durante muito tempo, “nós, os jornalistas, ficamos atormentados e tentamos lutar por aquilo que a gente chamou de democratização dos meios de comunicação”.
Agora, alerta Amorim, “temos outra batalha pela frente. Nossa
preocupação hoje, eu acho, deveria ser preservar empregos e preservar soberania
diante de um ataque maciço e inevitável dos grandes players internacionais,
Google, Facebook, Netflix e Amazon.
Nós temos que pensar não só a questão da soberania, o que significa entregar a
internet, o mundo digital a players americanos, mas também temos de pensar nos
empregos”.
A conversa no TUTAMÉIA também percorreu a ladeira da memória. Paulo Henrique contou um pouco sobre sua experiência jornalística e de ligação com fatos capitais da história brasileira: aos 15 anos, no Rio de Janeiro, era um dos brasileiros que se acotovelavam em frente ao palácio do Catete para saber notícias sobre a morte de Getúlio Vargas. “Fiquei na primeira fila no cordão de isolamento”, disse Amorim.
Como jornalista, cobriu a Campanha da Legalidade, mobilização comandada por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul, para se contrapor à tentativa de impedir a posse de João Goulart em 1961, depois da renúncia de Jânio Quadros.
“Vi o golpe de 64. Vi agora o golpe do Temer, uma coisa sórdida, dos canalhas, e pusilanimidade do Supremo, a covardia do Supremo. Agora ver essa liquidação a baixo custo da economia brasileira nas mãos do Bolsonaro e do Guedes é a constatação de que o Brasil fracassou. Em se plantando não deu nada.”
A frase final se refere ao texto da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, em que dizia, elogiando a terra em que Cabral havia recém aportado, em abril de 1.500: “Em se plantando, tudo dá”. Para Paulo Henrique Amorim, aquela foi a primeira fake news no Brasil.
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