“A democracia norte-americana está em risco. Ironicamente, eu faço parte de um movimento nos EUA de brasileiros e brasileiras e brasilianistas que está informando e mobilizando a opinião pública norte-americana sobre a realidade brasileira, que está [com a democracia] ameaçada. Mas, na verdade, a democracia norte-americana está sendo ameaçada também. A maioria dos republicanos acredita que Biden não foi eleito legalmente, que na verdade não é presidente. É assustador. É uma indicação da polarização que existe nos EUA. Desde a guerra civil, nunca existiu uma polarização assim”.
O alerta é do historiador norte-americano James Green ao TUTAMÉIA. A entrevista ocorre em 6 de janeiro, dia em que se completa um ano do assalto ao Capitólio. Na conversa, ele compara as situações de Brasil e Estados Unidos, fala do avanço da extrema direita, das eleições deste ano, aqui e lá, e das expectativas sobre a viagem de Lula aos EUA (acompanhe a íntegra no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Há um ano, turbas invadiram a sede do Congresso dos EUA, em Washington, num episódio que surpreendeu o mundo. Incitadas pelo então presidente Donald Trump, almejavam melar o último evento que sacramentava o resultado eleitoral que levou Joe Biden à Casa Branca. Cinco pessoas morreram no ataque. Mais de 700 receberam punições, que ainda não alcançaram os mentores da desordem golpista.
Brasilianista, professor na Brown University, James Green ressalta o fato de republicanos não terem participado da solenidade que marcou um ano do distúrbio: “Eles dizem que as pessoas que participaram dessa invasão estavam defendendo a democracia. É uma indicação da polarização e da situação dramática e crítica nos EUA”.
Ao TUTAMÉIA, Green enfatiza sua preocupação com o aumento dos grupos armados de extrema direita nesse contexto polarizado:
“O FBI tem declarado que a maior ameaça nos EUA nesse momento são os grupos que ele chama de terroristas, armados da direita nos Estados Unidos, que estão organizados a nível nacional e a nível local. Estão armados e têm ideias muito radicais, com capacidade de mobiliar pessoas pelas mídias sociais, de criar bolhas de pessoas que concordam com eles e de reforçar a sua ideologia. Eles estão ameaçando mesmo a democracia. E é perigoso. Porque se Trump for candidato em 2024 e for eleito, ele pode, com essas forças, implementar um tipo de sistema autoritário nos EUA, sem controle dos limites democráticos. Os republicanos estão parceiros desse processo. O partido republicano se radicalizou de uma maneira que, hoje em dia, não se reconhece o partido que existia 10 ou 15 anos atrás”.
Na análise de Green, a extrema direita vai fazer tudo para evitar uma vitória dos democratas em 2024. “Em todos os estados que eles têm maioria na Assembleia Legislativa, estão aprovando leis para dificultar a participação nas eleições, criando obstáculos para as pessoas votarem. Porque, se as pessoas têm livre aceso à votação e há uma mobilização para votar, eles vão perder as eleições. Eles estão aprovando leis para diminuir a possibilidade de um processo eleitoral democrático e aberto. Isso é muito sério. Paralelamente, há essa negação da realidade. Estão incentivando uma negação do sistema”, afirma.
Ele observa:
“As pessoas que acreditam que Biden não foi eleito e que Trump é o presidente dos EUA são as mesmas que não acreditam na vacina, se negam a ser vacinadas e estão criando uma situação perigosa”.
Para Green, Trump é culpado nesse processo:
“Ele está incentivando essa mobilização, porque ele quer usar isso para seus interesses particulares. Estamos numa situação muito crítica e muito deprimente nos EUA, como vocês vivem no Brasil com o Bolsonaro. Só que vocês têm uma esperança agora, porque as pesquisas indicam que Lula vai ser eleito presidente e vai voltar para uma normalidade que não existiu nos últimos três anos”.
Deixar um comentário