“O fato de que aquela injustiça contra Lula esteja sendo revogada, ainda que tardiamente, é uma conquista da democracia brasileira, da cidadania brasileira. Vimos o voto eloquente do Gilmar Mendes. Por que, nesse momento, uma pessoa como o Gilmar decide reverter algo do qual ele também foi responsável? Isso mostra que estamos em um momento em que aquela coalizão de forças que decidiu liquidar com a democracia está rachada internamente. Os exageros do bolsonarismo levaram a isso”.

A avaliação é do sociólogo Luis Felipe Miguel ao TUTAMÉIA.  Nesta entrevista, ele analisa o papel da oposição, de Lula agora elegível, das forças bolsonaristas. Trata das ameaças de militares e da hecatombe da pandemia (acompanhe a íntegra no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV).

“O ex-presidente Lula continua sendo uma figura de enorme potencial eleitoral. Lula é disparado o político com o maior potencial eleitoral do Brasil. Muito à frente do próprio Bolsonaro. A presença de Lula com direitos políticos no processo eleitoral, seja como candidato seja como grande eleitor de um outro nome do PT, mexe nesse processo. Há uma mudança importante no cenário a partir do momento que uma injustiça evidente está sendo revertida”, afirma o professor da Universidade de Brasília. Ele segue:

“2022 está muito longe. Estamos vivendo uma tragédia sem precedentes. Não podemos esperar até 2022 para reagir. Temos um político criminoso na presidência da República uma pessoa que é cúmplice da pandemia. Existe a doença, mas isso que acontece no Brasil é uma tragédia de enormes proporções. O país cada vez mais empobrecido, menos soberano, servindo de chacota no cenário internacional. A gente tem que aproveitar esse momento. É responsabilidade do presidente Lula e das forças que o apoiam reforçar a resistência, a nossa oposição a essas políticas genocidas desse governo e fazer o mais importante: fazer com que a gente perca menos vidas no Brasil”.

BOLSONARO É A METÁSTASE DO GOLPE DE 2016

Na visão de Miguel, o STF está reconhecendo que houve uma conspiração contra a democracia brasileira em todo esse caso que envolve Lula e a Lava Jato. “Se a gente fosse levar às últimas consequências, todo esse processo teria que ser revertido. A conclusão óbvia daquilo que o Gilmar falou é que as eleições de 2018 foram fraudadas. Existe a indicação clara por parte do Supremo que houve uma conspiração contra a democracia”.

Diz Miguel: “Com a Lava Jato houve a instrumentalização da Justiça para fins políticos partidários, para impedir a livre manifestação da vontade popular. Bolsonaro não surgiu do nada. Bolsonaro é a metástase do golpe de 2016”.

Na entrevista, Miguel discute nomes de presidenciáveis. Fala sobre frentes e dos caminhos para as oposições. Enxerga dificuldades para a repactuação da democracia no Brasil:

“Esses mesmos setores [conservadores], mesmo diante da irracionalidade do Bolsonaro e de seu governo na pandemia, eles não são capazes de dar os passos necessários para a recomposição da política democrática. Não existe o entendimento de que é necessário voltar a fazer política aceitando as diferenças dentro do Estado democrático. Esses setores do tucanato, do empresariado não são capazes de, de fato, priorizar a necessidade de conter o Bolsonaro. Sempre estão dando uma no cravo e outra na ferradura. Começam desde agora a reeditar a conversa dos dois extremos da polarização negativa, que é o caminho para adiante justificarem um novo apoio a Bolsonaro, mesmo com tudo que aconteceu”.

E continua:

“Embora haja essas rachaduras, nesses setores a gente ainda não teve a superação da conjuntura que levou ao golpe de 2016, que são os setores da direita querendo vetar que qualquer setor vinculado ao campo popular possa de fato participar da política brasileira efetivamente. Eles continuam com essa tentação, o que mostra que a nossa direita ou centro direita possui um grau de convicção democrática muito baixo”.

Para ele, essa situação aumenta a responsabilidade dos setores da esquerda. “Somos nós que vamos derrotar o Bolsonaro. Porque a direita que hoje se apresenta como oposição ao Bolsonaro não tem força de vontade para fazer o enfrentamento do Bolsonaro como deve ser feito. Porque ainda acha, no meio de toda essa insanidade, que o governo Bolsonaro lhes dá, por meio das políticas de restrição de direitos, do Estado, da desnacionalização da economia, algumas das coisas que eles querem”.