Jair Bolsonaro é uma peça dos EUA. Assim como Sérgio Moro, que foi formado lá. A nomeação do juiz para o Ministério da Justiça é uma exigência norte-americana. Bolsonaro não manda muito. É um personagem grotesco, patético. Quem manda são os capitais que estão por trás dele. Como aconteceu com Hitler, quando ele chegou ao poder.
A avaliação é de Juan Carlos Monedero, um dos criadores do Podemos espanhol, em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima). Cientista político, professor da Universidade Complutense de Madri, ele defende a formação de uma frente ampla, pois “a direita está unida em todo o mundo”.
“É preciso começar um processo de diálogo, que nos permita encontrar o que nos une e não o que nos separa. Steve Bannon [de ultradireita, ex-assessor de Donald Trump], que esteve aqui apoiando Bolsonaro, também está na Espanha apoiando a extrema direita. Esteve na Itália com Matteo Salvini, colaborou com o Brexit. Pretende que a União Europeia se rompa, porque uma EU despedaçada é favorável à essa lógica estadunidense da extrema direita. Eles se encontram em muitos lugares, têm dinheiro e são poucos –podem juntar as 40 pessoas que são as que mandam”, afirma.
Em sua visita ao Brasil, na semana passada, Monedero, 55, esteve com Lula em Curitiba. O seu relato:
“Lula me disse: ‘Monedero, isso [a prisão] é uma merda. Eu sei porque estou aqui. Me prenderam porque o Brasil descobriu petróleo em 2006. E os EUA precisam controlar esse pais’. Ele me recordou que, no ano da descoberta do petróleo, os Estados Unidos reativaram a quarta frota [Atlântico Sul]”.
Segundo Monedero, os EUA não poderiam suportar uma vitória da esquerda no Brasil, depois de não conseguirem barrar a eleição de López Obrador no México, pois vivem uma crise de hegemonia, com o avanço da China. No Oriente Médio, fracassaram. Regressaram, então, ao seu quintal, a América Latina. “Os Estados Unidos querem os recursos naturais e os recursos estão aqui: minérios, água, biodiversidade”.
“Lula demonstra ter muita força, está lendo história entende o que está acontecendo. Sabe que sua situação é parecida com as que viveram Antonio Gramsci, Pepe Mujica, Nelson Mandela. A prisão de Lula é contrária às regras básicas dos direitos humanos”, diz.
Monedero coloca o retrocesso brasileiro dentro da crise do neoliberalismo, iniciada em 2007. “O capitalismo em crise embute alguma forma de autoritarismo. Nos anos 30, tomou a forma de fascismo. A crise do neoliberalismo de 2007 teve como resultado expressões mais autoritárias, como a extrema direita na Europa, ou a vitória de Bolsonaro”.
No conjunto, para ele, há três elementos para explicar a situação atual:
1. A vontade dos EUA de voltar ao continente latino americano, depois do fracasso no Oriente Médio;
2. A crise do modelo neoliberal, que se pretende revolver com o aprofundamento das mesmas receitas neoliberais e, portanto, há um desejo do sistema de implantar o autoritarismo para fazer valer esse modelo que gera tanta dor social;
3. Os erros das forças políticas da esquerda na América Latina, principalmente sua incapacidade de fazer valer os valores próprios da esquerda.


PESSIMISMO ESPERANÇOSO
“Devemos ser pessimistas, mas esperançosos. O inverno neoliberal vai ser curto, mas vai ser duro. Teremos que protestar, resistir”, diz ao TUTAMÉIA. Na sua visão, a estratégia de resistência passa pela formação de uma frente ampla –o que significa muita conversa entre as diferentes forças e muita generosidade.
A dificuldade está em reunir os vários grupos. Ele fala da experiência do Podemos, que funciona um pouco como uma frente, com múltiplas parcelas da sociedade, com interesses às vezes contraditórios.
“Corremos o risco de cada um dos grupos se refugiar na sua identidade particular e perder de vista os elementos coletivos. É um risco. Podem haver feministas neoliberais, mas é mentira que sejam feministas. Têm um discurso feminista, mas é de mentira. Porque é o capitalismo que condena as mulheres à situação subalterna, de reprodução, cuidados e trabalho”.
Segundo ele, há uso desse “feminismo neoliberal, por parte da direita, para fragmentar não apenas o feminismo, mas para fragmentar a colaboração das mulheres conscientes de suas reivindicações como mulheres. Para que elas não acompanhem outras lutas, que são lutas de classe, de raça, de nação, lutas gerais. Por parte da direita há uma tentativa de exacerbar, de multiplicar as identidades, para que nos refugiemos em nosso pequeno mundito”, declara.
“Hitler governou porque a esquerda se fragmentou. No Primeiro de Maio de 1933, os sindicatos cometeram o erro de marchar junto com os nazistas. Aprendamos com os erros. Nesses 55% que votaram em Bolsonaro, não há 55% de nazistas. É preciso entender, debater. Não foram todos enganados. Há pessoas preocupadas com a violência. Há os que se decepcionaram com a esquerda, os que viram a esquerda fragmentada e entenderam que não teria êxito. Há os que viram frustrada a sua ascensão social. Houve subestimação sobre os evangélicos. É preciso saber que a direita não tem solução para as maiorias”.