“Doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano!”, cantavam manifestantes na época pré-pandemia, quando encontros de ativistas nas ruas envolviam discursos, dança, o entoar de palavras de ordem, batucada e cantoria.
Para o jornalista Bruno Paes Manso, há uma ligação entre o clã Bolsonaro e os grupos paramilitares, mas o vínculo ideológico é o elemento principal nessa relação. Em entrevista ao TUTAMÉIA, ele diz: “Eu acho que acima de tudo eles eram representantes ideológicos desse povo. Acima de tudo ele era o apologista dessa forma de as milícias enxergarem o mundo. Ele era o representante político desse grupo, o que defendia, por exemplo, policial assassinar outras pessoas sem investigação. Que achava que o estado de direito e a defesa dos direitos humanos era uma conspiração dos globalistas parta defender os bandidos”.
Pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, o jornalista acaba de lançar “A República das Milícias: dos Esquadrões da Morte à Era Bolsonaro”, que conta a trajetória desses grupos paramilitares e seu envolvimento com o poder desde a ditadura militar até os dias de hoje.
Na conversa (clique no vídeo acima para ver a entrevista completa e se inscreva no TUTAMÉIA TV), Bruno diz considerar Bolsonaro “o grande representante ideológico da visão miliciana de autoridade e de ordem”. Uma visão muito particular, pois, como lembra o jornalista, o atual presidente da República “sempre foi muito avesso à legislação. Chegou a falar em uma entrevista em 1999 que ele sonegava imposto mesmo e sugeria às pessoas que sonegassem, porque, na visão dele, o dinheiro público era carreado para a corrupção”.
Para o autor, a defesa das milícias, no entender de Bolsonaro, “significa a defesa de uma autoridade violenta, uma violência redentora, prometendo ordem mesmo que a despeito do estado de direito e da Constituição”.
Ele destaca, porém, que os grupos paramilitares estão longe de serem antibandidos: “As milícias se vendem como grupos que estabelecem a ordem territorial, pelo uso da violência, para evitar que o tráfico domine os territórios. Isso foi mudando com o tempo, porque a própria milícia começou a se envolver com o tráfico também”.
E fala que as ligações do clã Bolsonaro com os grupos paramilitares estão também no mundo concreto, para além das afinidades políticas: “Existe uma ligação estreita do núcleo duro das milícias e dos matadores do Rio com o escritório do filho do presidente da República. O que mais é necessário para mostrar essa ligação? O que significa tolerar e engolir uma coisa dessas nos dias de hoje? O livro vai muito com essa pergunta na cabeça: por que isso é tolerado? Por que isso não gera o escândalo e a indignação que outros casos, envolvendo crimes não tão graves, provocam?”
Na entrevista, Bruno Paes Manso comenta a trajetória de elementos vinculados ao clã Bolsonaro, como Fabrício Queiroz e o matador Adriano da Nóbrega, assim como Ronnie Lessa, acusado do assassinato de Marielle Franco.
“Adriano sem dúvida tinha muita informação. Na semana em que aconteceu, ele disse que ia ser morto. Ele conhecia muita dessa cena criminal”, diz o jornalista, que também fala ao TUTAMÉIA sobre os interesses que podem estar por trás da eliminação de Marielle.
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