por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4
Roquenrrol na veia: Victor Biglione – Classic Rocks From Brasil (distribuição da Tratore e disponível nas plataformas digitais por download e streaming). Hoje é dia de Biglione, o argentino mais brasileiro que existe sobre a face desta terra em vias de ser arrasada pela covid-19. Nascido em Buenos Aires em 1958 e naturalizado brasileiro desde 1982, ele é um virtuoso guitarrista, violonista, produtor musical e arranjador.
Instrumentista dos mais versáteis do mundo, sua história costuma também ser celebrada pelo fato de ter gravado com o também guitarrista Andy Summers (The Police). Diz-se que o brasileiro, ao gravar dois álbuns com o norte-americano, somou pontos à sua trajetória. E mais, que Biglione esteve também ao lado de outros ícones do rock mundial, com quem também gravou: Steve Hackett (Genesis) e Andreas Kisser (Sepultura), dentre outros.
Aí me ponho a matutar: olha só, por melhor que sejam as feras internacionais da guitarra, e me perdoem a franqueza, esses encontros têm ida e volta. Assim como os caras apresentaram a arte da guitarra para Biglione, o brasileiro igualmente permitiu que usufruíssem da envergadura roqueira de seu instrumento.
E é através de guitarristas como Victor Biglione, e tantos mais, que o roquenrrol se perpetua na história da música negra norte-americana.
Mas vamos ao CD: a tampa abre com “Oh Well” (Fleetwood Mac), quando a guitarra faz referência a “Quadrant”, do baterista Billy Cobham, dos Rolling Stones… quando puderem ouçam esse tema, mas deem preferência a ouvir o álbum todo, pois nele estão alguns dos recursos que fazem de Biglione um mestre.
“Serves Me Right to Suffer” (John Lee Hooker) traz a voz de Vera Negri, uma perfeita bluerockwoman. Que voz, meu Deus! Biglione se vale de expedientes fascinantes, como quando a guitarra se ajunta à batera (Arthur Dutra) para darem vez ao poder vocal de Negri.
“1+2 Blues” (Larry Corryell), com participação de Andy Summers, tem intro com dois violões (Biglione e Summers). Sente-se que um não deve nada ao outro, são iguais em improvisos e força melódica.
“Latin Texas” (Victor Biglione) demostra a capacidade composicional de Biglione. A intro com congas (Roberto Alemão) antecede a entrada do solo do baixo (Marco “Bombom”). Logo a batera de Roberto Alemão sustenta a parada, enquanto o baixo improvisa.
“Psychodelic Frisco (Victor Biglione) fecha a tampa. Contando com baixo acústico (Luiz Alves) e moog e batera (Roberto Alemão), o tema leva a concepção do álbum ao clímax.
Graças a guitarristas como Victor Biglione, o roquenrrol excede o tempo e se transforma em espelho, não só para a juventude, como também para os coroas que hoje, como eu, somos as vítimas preferenciais desse tal coronavírus.
Victor Biglione – Classic Rocks From Brasil exalta a guitarra de um instrumentista de referência, protagonista de um gênero musical que sobrevive graças à rara vocação de músicos como ele, plenos de talento e ardor.
#fiquemosemcasa
Deixar um comentário