Por AQUILES RIQUE REIS, vocalista do MPB4

Esse Meu Olhar é o título de um CD gravado ao vivo pela cantora Verônica Sabino, em 2015. Ao comentá-lo, titulei-o Verônica Canta Feliz. Agora, em 2021, ela lança um novo trabalho ao vivo, desta vez com o craque das sete cordas Luís Filipe de Lima e a participação especial de Marcos Suzano, percussionista presente nos álbuns de nove entre dez nomes da MPB.

Meu Laiaraiá – Ao Vivo (selo Cabanas Produções) traz nove releituras de músicas de Martinho da Vila. Num trabalho notório e elegante, Verônica e seu parceiro encontraram o tom correto das malemolências criadas pelo compositor de Vila Isabel.

O álbum foi gravado este ano, em show do projeto Quatro Cantos, da Cabanas Produções, e com (bem-vindos) recursos da Lei Aldir Blanc.

Assim sendo, é uma delícia ouvir cada faixa. São elas: “Meu Laiaraiá”, “Quero Quero”, “Disritmia”, “Ex-Amor”, “Madrugada, Carnaval e Chuva”, “Renascer das Cinzas”, “Quem É do Mar Não Enjoa” e “Samba da Cabrocha Bamba”, todas de Martinho da Vila, e “Madalena do Jucu” (Associação das Bandas do Congo da Serra), cuja adaptação de Martinho foi um grande sucesso em seu disco de décadas atrás O Canto das Lavadeiras, com arranjo de Rildo Hora.

A sucessão de sambas e quetais traz à tona a genialidade de Martinho, reverenciada pela voz de Verônica, pelo sete de Luís Filipe e, eventualmente, pelas percussões de Suzano.

Como gosto de fazer, mais uma vez, nomeio a equipe ajuntada para o bem da música: Verônica Sabino e Luís Fílipe de Lima (produção artística), Marcelo Cabanas (direção de produção), Ricardo Pinto (gravação e masterização), Renan Toledo (mixagem), Verônica Sabino (arte), Cristina Granato (foto), lançamento da Cabanas Produções/Mills Records.

A voz de Verônica amadureceu. Sabedora dessa conquista, ela se entrega ao canto, certa de que pode ousar o quanto quiser: ater-se ao tradicional ou dividir as frases com desenvoltura. Sua afinação está firme, o que, com uma boa respiração, permite que as notas soem certeiras.

Luís Filipe Lima e o seu sete cordas são arrebatadores. Baixarias no momento certo e improvisos em intermezzos sofisticados. Segurança na levada, seja ela qual for, a cada compasso o sete traz o suingue que Martinho leva em seu DNA.

Bem como Marcos Suzano atesta sabedoria no bom gosto da escolha de cada item à sua disposição em sua mesa de percussões: ele tem sempre um ás de ouros à mão. Um mago do suingue.

Como em Esse Meu Olhar, lançado há quinze anos, a alegria está presente em Meu Laiaraiá – Ao Vivo. Contentamento compartilhado por Verônica Sabino e Luís Filipe de Lima, além de Marcos Suzano, que abraçaram um bom projeto, implementado por mãos profissionais.

Estimulados pela certeza de que Martinho da Vila é um sambista de sólida dimensão e de grande profundidade musical, voz e mãos fizeram-se instrumentos da alma. Devotos da beleza da diversidade da música brasileira, munidos de seus talentos irretocáveis, vão em frente. A música vai com eles. Ô sorte!