por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

Desde sempre tenho um carinho todo especial pela música amazônica. Encantam-me a diversidade sonora e os versos de seus poetas. Fascinam-me o talento e a grandeza que têm. Atributos que, em parte, vêm da retumbância dos rios e da grandiloquência da floresta.

Desde o início desta coluna passei a ter acesso a CDs que me deixaram ainda mais fascinado pela música amazônica. Saúdo nela alguns dos responsáveis pela oxigenação dessa música. Louvo-os porque os conheço a partir de seus discos que comentei, a exemplo dos textos “O canto amazônico de Simone Almeida” (2007); “Juliele é mais uma boa cantora que chega abençoada pela Amazônia” (2008); “A força da música amazônica” (2010), sobre o CD de Enrico Di Miceli e Joãozinho Gomes; “Paisagem musical brasileira” (2013), sobre o álbum em que o pianista Gilson Peranzzetta e o saxofonista Mauro Senise uniram-se para participar do 7º Festival Amazonas Jazz, tocando com a Amazonas Band; “O talento amazônico de Patrícia Bastos” (2010); “Deixe-se provocar por Lia Sophia” (2018); e, por fim, “A música de duas feras” (2018), sobre o CD de Marcelo Sirotheau e Jorge Andrade.

Hoje temos outra cantora amazônica: a paraense Natália Matos, que lançou o CD Não sei fazer canção de amor (patrocínio do Banco da Amazônia). Com direção artística de Carlos Eduardo Miranda, o CD revela um momento de descoberta existencial da mulher criadora. Logo se vê que o repertório não contempla nenhum dos tradicionais gêneros musicais amazônicos. Em busca de uma sonoridade mais pop, Natália entregou-se à missão de redescobrir-se com apoio da produção musical de Léo Chermont, ele que também fez as programações. Programações nunca previsíveis; ao contrário, sempre consistentes.

Com capa de Alexsandro Souza, belamente ilustrada por Layse Pimentel, Não sei fazer canção de amor tem altas doses de sabedoria musical e um repertório que Natália canta afinada e com a manha de quem sente que o objetivo ansiado está logo ali.

De cara, “Vamos Embora” (Natália e Jam da Silva) deixa antever que Natália busca sua individualidade.

“A Cura” (NM e Ana Clara) e “Cama Grande” (NM) findam por desmentir o título do CD. Na primeira, Natália imprime na voz um tom romântico, cuja guitarra (Léo Chermont) amplia; na segunda, o baixo (Príamo Brandão) adensa o clima poético.

“Nós” (Malu Guedelha e NM) e “Domingo” (NM) trazem o clima para a simplicidade de um som com levada cadenciada.

“Roseado” (Antônio Novaes) patenteia o uso das programações. Natália dobra a voz. O pop reina.

Ao ouvir “Não Sei Fazer Canção de Amor” (NM), posso afirmar: “Sabe sim, Natália! Pois uma atmosfera apaixonante reina pop em seu horizonte”.

“Sol” (NM) é a melhor música do disco. Apoiada pelo piano (João Leão), a batera (Arthur Kunz) traz o ritmo.

“Dá e Passa” (NM) e “A Lágrima” (NM e Renato Torres) começam de levinho, mas logo pegam no breu e sobem, (e)levando junto o som pop de Natália Matos.

Salve os fazedores da música amazônica!