“O apartheid que houve em relação à Aids está se repetindo agora com a Covid 19, com o apartheid da vacina. Infelizmente o mundo não aprendeu com a história da Aids”.
A avaliação é de Fabio Mesquita, médico pioneiro no enfrentamento ao HIV no Brasil, em entrevista ao TUTAMÉIA no Dia Mundial de Luta Contra a Aids (1º de dezembro). Doutor pela Faculdade de Saúde Pública da USP, ele coordenou a fundação do primeiro programa municipal de AIDS do Brasil, em Santos, na gestão de Telma de Souza (PT), que serviu de modelo para o país.
Diretor do departamento de DST/AIDS e hepatites virais do Ministério da Saúde no governo Dilma, hoje ele trabalha para a Organização Mundial da Saúde em Myanmar, no Sudeste da Ásia.
Nesta entrevista, Mesquita relata sua experiência pessoal e avalia como os países enfrentaram o HIV, detectado há 40 anos. Na principal pandemia do século 20, o vírus foi contraído por 80 milhões durante essas quatro décadas, provocando a morte de 36,5 milhões de pessoas (acompanhe a íntegra a conversa no vídeo e se inscreva no TUTAMÉIA TV).
Mesquita lembra que, ao final do século 20, o epicentro da epidemia de Aids era a África Subsaariana, especialmente em países como a África do Sul e Moçambique. Nessa região, de cada quatro pessoas, uma tinha HIV. “E não tinha nenhuma atenção. O mundo todo ignorou a África durante 20 anos”.
Ele afirma:
“Naquela época, todo o medicamento que existia estava concentrado nos países ricos. Um pouquinho no Brasil, que tinha uma política própria bem arrojada. Mas o resto era só país rico. Existiam os medicamentos retrovirais, os coquetéis, mas não chegavam à África. E as pessoas de lá estavam morrendo. Crianças, adolescentes, jovens adultos, de qualquer faixa etária. É interessante olhar para o passado e ver que se teria muito a aprender”.
Mesquita segue:
“Quando surgiu a ômicron, os primeiros casos foram detectados na África do Sul. Não quer dizer que apareceu lá. Mas, por causa disso, os países europeus e da América do Norte começaram a proibir as pessoas dos países da África de viajar. Essa variante começou a aparecer no mundo inteiro, mas os proibidos são só os habitantes do sul da África. É um apartheid mesmo. A OMS nunca recomendou que se impedisse essas pessoas de viajar”.
Lembrando os alertas da OMS, o médico declara:
“É uma questão de equidade. Enquanto a vacina não for distribuída para o mundo todo, vai continuar aparecendo variante nova. Porque o vírus está aí se multiplicando. Ele não vai ficar parado esperando. O mundo está completamente globalizado. Essa questão da equidade hoje é fundamental na luta contra a Covid, na luta contra a Aids e em todas as lutas”.
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