Valas comuns, sacos para cadáveres, caminhões cheios de corpos, caixões lacrados, luto, dor, necropolítica. As expressões passaram a fazer parte do cotidiano do brasileiro, apesar de todo o negacionismo, a subnotificação, a irresponsabilidade governamental. “A morte entra pela janela, pela TV. É uma política genocida propositadamente organizada que estamos vivendo nosso país”, diz a historiadora Elisiana Castro ao TUTAMÉIA TV (acompanhe no vídeo acima).
Formada em história pela UDESC, com mestrado em arquitetura e urbanismo pela UFSC e doutorado em história cultural pela UFSC, Elisiana é fundadora e presidente da Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais. Nesta entrevista, ela fala do trabalho de resgate da memória das vítimas do covid que está sendo realizado pela Rede de Apoio às Famílias de Vítimas Fatais de Covid-19 no Brasil, um grupo apartidário e multidisciplinar que atua também no amparo aos enlutados na pandemia.


Para Elisiana, “a morte está em cena de forma trágica e bastante seletiva. A desigualdade está escancarada. A pandemia não é democrática”. A historiadora diz que os mais atingidos são os mais vulneráveis, os mais pobres, os negros, os indígenas. Relata casos que a rede tem acompanhado pelo país afora. Como a de uma moradora do Rio de Janeiro que perguntava como lidar com um corpo que jazia em casa; o serviço funerário demorava para chegar. De uma mãe que chora porque não pode ver o rosto do filho nem pelo vidro do caixão –ele está totalmente ensacado. De indígenas que não conseguem realizar seus rituais de “encantamento” (no destaque, foto no cemitério público Nossa Senhora Aparecida/ Alex Pazuell/Semcom/Fotos Públicas).
“A gente vive sem pensar na morte, por isso consome muito”, diz. A conversa trata de filosofia, de história, de cultura sobre o pensamento a respeito da morte. Principalmente, trata de ação, do trabalho da rede. Vai ser preciso “lutar por comissões da verdade, por reparações“, aponta Elisiana.