“Bolsonaro aposta no caos. Esse é seu o objetivo político ao atrasar a renda básica e ao não tomar medidas fundamentais de combate ao coronavírus. Tudo que Bolsonaro quer ver é aquilo que ele diz que combate: são saques, as pessoas indo desesperadas para a rua e criar cenas de barbárie. Porque isso cria o pretexto que ele quer para um endurecimento e saídas autoritárias no meio da crise. Foi o pretexto que Viktor Orban, na Hungria, utilizou para ter plenos poderes e governar por decreto. O Bolsonaro quer usar a pandemia no Brasil para impor as suas saídas autoritárias, ditatoriais, que ele não esconde de ninguém desde o início de sua carreira política. É isso que está em jogo neste momento”.
A avaliação é de Guilherme Boulos em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima e inscreva-se no TUTAMÉIA TV).
Líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), ele afirma que, por conta desse cenário, é urgente aprovar medidas de proteção às pessoas e forçar para que elas sejam implementadas. A renda básica aprovada pelo Congresso, por exemplo, ainda não está sendo distribuída. “Bolsonaro não é mais um problema político. Bolsonaro é um problema de saúde pública. É um problema sanitário na medida em que ele desinforma a população e atua como propagador da pandemia. Ele tem de sair imediatamente”, afirma.
Nesta entrevista, Boulos falou sobre a carta que exige a renúncia de Bolsonaro, documento assinado por ele na semana passada com Fernando Haddad, Ciro Gomes, Roberto Requião, Flávio Dino e outras lideranças. Disse que o documento, que expõe propostas urgentes de combate aos efeitos sociais, econômicos e sanitários da pandemia, está ampliando suas adesões entre diferentes atores políticos. Nas próximas horas, uma centena de parlamentares deve apoiar a proposta de renúncia, que já teve o endosso do PV e da Rede, além dos partidos que assinaram o documento originalmente.
Candidato à Presidência pelo PSOL em 2018, Boulos avalia que Bolsonaro adotou um discurso cínico ao afirmar que a escolha dos brasileiros era entre a economia e a vida das pessoas, como se fossem apenas essas as possibilidades existentes. Diz que, inicialmente, esse discurso ganhou apoio de uma parte da sociedade que está desesperada. “São milhões que trabalham de dia para comprar o jantar, que trabalham no Rappi, no comércio informal, fazem bicos. Ele usa de maneira sórdida esse desespero. Não é verdade que a escolha é entre morrer de coronavírus ou de fome. O Estado tem que intervir, dar garantia de sobrevivência para todos, especialmente para os mais vulneráveis. O recurso foi aprovado. Já devia estar na conta. Ele atrasou”, declara.
Boulos relata casos de vários países, mesmo os governados pela extrema direita, que adotaram, sem titubear, medidas de apoio à população têm sido tomadas de forma ampla e inédita para que a necessária quarentena seja feita com dignidade. “Bolsonaro, para fugir de suas responsabilidades, cria um falso problema”, declara.
Falando a partir do bairro do Campo Limpo, na periferia paulistana, ele trata de campanhas de solidariedade e da quarentena entre os mais pobres:
“A compreensão das pessoas [da periferia] sobre a importância da quarentena é muito mais madura do que a do presidente da República. As pessoas estão saindo quando não têm outra alternativa. Se a renda de emergência começar a ser paga, as pessoas ficarão em casa. Uma parte importante está consciente. Depende de o Estado cumprir com as suas responsabilidades”, diz.
Boulos prevê, como os especialistas em saúde pública, uma explosão de casos de coronavírus na periferia nas próximas semanas. “Chegou nas periferias e chegou com força. É como rastilho de pólvora, principalmente se a quarentena for desrespeitada. As condições sanitárias são muito piores, falta saneamento básico, água. Aqui, no Campo Limpo, a água que vem da rua acaba à noite”.
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