“Estamos vivendo um retrocesso civilizatório. Esse é um governo de destruição nacional. Se houvesse um projeto de destruição de um país, de destruição de seu povo, de destruição de conquistas civilizatórias mínimas, ele não seria muito diferente desse projeto que está sendo posto em prática pelo governo Bolsonaro. É preciso que as pessoas tenham consciência disso e possam ir além da reclamação, do comentário ou até da galhofa com as idiotices ditas pelo presidente e seus ministros”.
O alerta é do jornalista Cid Benjamin em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima), na qual discutiu a conjuntura política, o avanço das milícias e os ataques de Bolsonaro à liberdade de imprensa. Vice-presidente da centenária Associação Brasileira de Imprensa (ABI), ele está lançando “Estado Policial, Como Sobreviver” (Civilização Brasileira). No livro, ele relata experiências na resistência à ditadura militar, buscando ensinamentos para a situação atual.
Liderança do movimento estudantil nos anos 1960, Cid, foi integrante do MR-8 e, com Franklin Martins, idealizou o sequestro do embaixador norte-americano em 1969 (veja entrevista sobre essa ação aqui no TUTAMÉIA). Preso político, foi torturado e, em troca da libertação do embaixador alemão, foi para o exílio com um grupo de militantes em 1970. Com a redemocratização, ajudou a fundar o PT e, depois, o PSOL.


“É sintomático que esteja acontecendo algo que nem na ditadura aconteceu. Há setores da sociedade fascistizados, eles querem brigar, dar porrada. No tempo da ditadura não tinha isso. Naquela época houve violência do aparelho de Estado. Havia pessoas que apoiavam aquilo, mas não de forma tão militante. Temos hoje uma militância de extrema direita fascistizada. Isso é muito perigoso para a sociedade, para a convivência democrática na sociedade. Isso é estimulado pelo presidente, seus filhos, por aquele guru exótico dos EUA”, afirma.
Na entrevista ao TUTAMÉIA, Cid discorre sobre a ascensão das milícias e sobre os risco de um estado policial no Brasil. “Se formos olhar para as favelas do Rio, já estamos num estado policial. O governador estimula a violência policial nas favelas. O estado miliciano existe, mas está mais localizado. É parte do estado policial”, declara.
Na conversa, ele relata a retomada da ABI pelas forças democráticas e as dificuldades do processo de reconstrução da entidade, que tem lugar destacado na história da resistência no país.
“Uma ABI forte na luta pela democracia é uma coisa importante. Daí a dificuldade que tivemos para fazer essa eleição. Estamos trocando o pneu com o carro andando, mas é um trabalho gratificante. A ABI está de volta”.
Na sua avaliação, a liberdade de imprensa está sob ameaça com Bolsonaro. Por isso, a ABI buscará reunir forças em defesa da democracia.