por Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4
Do final da década de 1979 até hoje, quando completa 40 anos de carreira, Ubaldo Versolato emprestou seu talento a gravações diversas. Fossem elas de música instrumental ou no LP/CD de algum nome famoso, podia-se lá ouvir o som inconfundível de seu saxofone barítono.
Mas faltava um álbum solo… Faltava, não falta mais. A gravadora Kuarup reparou o desleixo e lançou Portal, o primeiro CD de Ubaldo Versolato, com quatro composições só dele, três de seu filho Léo Versolato e uma de Edson José Alves.
No encarte, Ubaldo comenta o título de seu álbum, Portal: “Desde muito jovem, admirei portas, portões e escadas de casas e lugares que vi e por onde passei. Sempre os relacionei às metáforas (…)”.
Enquanto lia, lembrei-me da letra de Paulo César Pinheiro para “Pesadelo”, música icônica dele e Mauricio Tapajós, composta sob tempos de chumbo: “Quando um muro separa, uma ponte une (…)”.
No CD impressionou-me a relevância do repertório. Nada se prende a nada, tudo amplia horizontes musicais e experiências de vida. E o faz sem parti pris, de braços abertos ao novo, levando consigo a sua vivência na música e nos relacionamentos com as pessoas.
Um parêntese. Aqui peço licença para considerar o som do sax barítono: consistente, majestoso, até mesmo “suculento”, em sua austera gravidade.
O disco inicia com “Cubango” (Edson José Alves). Num 2×4 (ou seria um 4×4?), o tema enérgico tem leitura sincopada e contagiante do barítono. Brincando de dividir compassos, Ubaldo sola o tema… e quebra e vai e vem e viaja, solto, abrindo portas fechadas, tornando-as formidavelmente escancaradas.
Livres como o sopro do barítono, batera (Gabriel Guilherme), piano (Fábio Leandro) e baixo (Léo Versolato) comungam com o sax ao longo de um arranjo brilhante – este e os demais são coletivos.
Findo o tema inicial, o sax toma a melodia pela mão e vai. E improvisa. O som do piano começa a ganhar volume. (Aliás, a mixagem e a masterização, a cargo de José Luiz Costa, encarregam-se, e bem, das nuances). Irresistível, o tema volta e com ele a quebradeira. O sax improvisa. O piano o acolhe. Batera e baixo, idem. Até que o improviso volta ao sax, com compassos plenos de bom gosto e elegância. E volta o tema… Ubaldo se esbalda.
E aí vem “E aí, Belê?” (UV). As percussões iniciam a festa. Após algumas notas do sax e de um alarido de vozes, vem o samba. Cabe ao sax conduzi-lo. Balançado que só ele, tudo encorpa no sopro do barítono, que avança até passar a responsabilidade pelo suingue ao Fender Rhodes. O sax retoma o improviso e logo vai à melodia. Na volta da percussão, o samba fecha a tampa.
A atuação do contrabaixo, da batera e do piano é superlativa. Graças a eles e à afinada participação de Fernanda Versolato (filha de UV), em um duo de voz e sax no pulsante “Estudo No. 3” (Léo Versolato), a boa música prevalece.
Com a certeza de ter nas mãos um bom saxofone barítono, Ubaldo Versolato mostra-se livre para tocá-lo com a alegria de quem brinca.
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